Na última edição do Notícias de Ourém (n.º 3702, 5.Dezembro.2008, p. 5), foi publicado um COMUNICADO DA SECÇÃO DE OURÉM DO PSD escrito em português de sapato, COM PONTAPÉS NA GRAMÁTICA, NA ORTOGRAFIA E NA PONTUAÇÃO, QUE ENVERGONHA pessoalmente quem o redigiu e institucionalmente a entidade que o subscreveu. Para poder ser apreciado o nível de amanho da prosa e da estima e do respeito pela língua portuguesa, transcrevo abaixo um excerto da primeira parte do comunicado referido, que também serve de motivo para mais cinco notas.
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"Dr. António Gameiro, seguem alguns comentários que embora as assumamos, são também proferidos por militantes do seu partido.
Porque é que não:
(...)
- não teve a coragem de se definir como candidato à Câmara Municipal de Ourém, sendo V.ª Ex.ª o presidente da Comissão Política do PS!!
O PS não acreditou que V.ª Ex.ª possui competências,... muitas competências?
(...)
Já todos sabemos quem é o candidato!! O Senhor não será!!
- não esclarece se é ou não legal que o Sr. Dr. Paulo Fonseca, sendo Governador Civil, acumule com o cargo de Presidente da Federação Distrital do PS e candidato à Câmara Municipal de Ourém?
Porque é que no jantar do PS local a realizar no próximo dia 13 de Dezembro, em Rio de Couros, se salienta o seu nome e de Paulo Fonseca, não como militantes, mas como Governador Civil e Deputado, respectivamente.
Não haverá aqui promiscuidade partidária ou institucional?"
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Dois. Avançada a arenga do comunicado, é feita a acusação de falta de coragem a António Gameiro por ele não se ter assumido como candidato à câmara municipal de Ourém. Neste passo, o comunicado ultrapassa o limiar da estupidez. Porque, por ser presidente da comissão política concelhia do ps em Ourém, mesmo no âmbito de uma prova de intrepidez, nada obriga António Gameiro a assumir-se como candidato a presidente do executivo municipal.* Quem escreveu o comunicado ou não sabe o que é coragem ou não sabe o que é política ou outra coisa qualquer, não se sabe qual. E, quanto mais não seja por pejo, devia ter moderado as considerações neste plano. Pois convém não esquecer a figura triste que fez Vítor Frazão, o actual manda chuva do psd local, ao ter assumido publicamente ser candidato a presidente da câmara municipal de Ourém nos termos em que o fez. É que ele
assumiu ser candidato mesmo que fosse engendrado um golpe palaciano. Mas o que é isto? Os órgãos competentes do psd já decidiram que Vítor Frazão será o seu candidato ou não? É que ele não declarou a sua disponibilidade para ser candidato. Nada disso. Vítor Frazão assumiu-se como candidato do psd à presidência da câmara municipal qualquer que venha a ser a decisão do partido político do qual faz parte. Isto não é coragem. Também não é humildade. É outra coisa qualquer. E não me parece que seja bonita. Ora, considerando isto e mais dois pormenores, o facto de David Catarino ainda não ter apoiado publicamente Vítor Frazão - porquanto afirma reservar tal apoio ao candidato que vier a ser indicado pelo psd - e dois «desabafos» recentes de João Moura (publicados nas edições n.º 3699 e 3700 do
Notícias de Ourém, de 14.Novembro.2008 - p. 15 - e de 21.Novembro.2008 - p. 15 -, respectivamente), a afirmação de unidade do psd que é feita no princípio do comunicado não deixa de ser risível, tão mal disfarçado é o modo tacanho de tentar «mandar areia para os olhos» dos oureenses.
Três. Do cérebro de quem é que emanou a redação de comunicado tão bronco? Pergunto isto porque escrever mal e dar publicidade desse feito não me parece que seja grande prova de valentia.
Quatro. Como se não bastasse o disparate da alusão à coragem de António Gameiro, o responsável pelo comunicado armou-se em artista e em inventor, decretando Paulo Fonseca como próximo candidato socialista à presidência da câmara municipal de Ourém. A manobra, mais do que manhosa, é tonta. Pela evidência chã de os órgãos do ps - assim como os do psd - ainda não terem escrutinado e indicado quem encabeçará a lista respectiva ao órgão executivo do município de Ourém. Como tontaria tende a levar a mais tontaria, a secção do psd de Ourém quer que António Gameiro esclareça se Paulo Fonseca pode ser ao mesmo governador civil, presidente da federação distrital de Santarém do ps e candidato à câmara municipal de Ourém. Vamos lá a ver. Para começar, Paulo Fonseca não é ainda candidato em Ourém. Pode vir a ser, mas não é. Só isto revela o calibre da estupidez subjacente à intenção expressa nesta passagem do comunicado. É que, se a acumulação referida existe e é ilegal, o que é que o psd está à espera para fazer a participação do caso às entidades judiciárias competentes? Está à espera do esclarecimento de António Gameiro? O esclarecimento dele serve para resolver o assunto? E, atenção, neste ponto mais uma vez a desfaçatez patente no comunicado é exposta em todo o seu esplendor. É que quem o escreveu há-de saber, por exemplo, que a mesma pessoa que é chefe de gabinete do presidente da câmara municipal de Ourém tem assento na assembleia municipal. Há compatibilidade nisto? O que é que diz o regime aplicável ao pessoal dos gabinetes? Para fazer o paralelismo, há algum chefe de gabinete do actual governo que seja ao mesmo tempo deputado na assembleia da república? Será que não é evidente que alguém na condição de subordinado não pode ser simultaneamente fiscal do seu superior? E David Catarino pode, enquanto presidente da câmara municipal, andar a implicar Ourém no pólo turístico de Leiria-Fátima e ao mesmo tempo, pessoalmente, andar em campanha para presidente da comissão executiva desse mesmo pólo? O que é que garante que ele não sobrepõe os seus interesses pessoais enquanto candidato ao cargo mencionado aos interesses do município de Ourém? Nada disto parece incomodar ou sobressaltar a malta do psd cá da paróquia. O que interessa é manobrar, escrever com maiúsculas, chispar asneiras e pretender que António Gameiro esclareça a legalidade do que não pode ser ilegal porque pura e simplesmente não é, na justa medida em que Paulo Fonseca não é ainda candidato do ps à câmara municipal de Ourém. Quanto mais não seja porque as eleições autárquicas ainda não estão marcadas, embora a secção do psd de Ourém pareça achar que sim. Talvez o caso não seja de foro jurídico.
Cinco. Se é verdade que andam a publicitar a participação de Paulo Fonseca como governador civil num jantar de natal organizado pelo ps, o psd tem razão para acusar tal facto. Mas mais uma vez o redactor do comunicado devia ter revelado algum pudor. É que não é necessário invocar passados muito remotos do psd de Ourém para perceber o seu padrão duplo de preocupação. Não há muito tempo, Deolinda Simões assinou artigos de opinião na imprensa local abusando da condição e do título de presidente da assembleia municipal e não consta que alguma vez a secção de Ourém do psd tivesse emitido um comunicado a manifestar preocupação com o facto. Podia e devia tê-lo feito, até porque Deolinda Simões é militante do psd e foi eleita numa lista desse mesmo partido político. É que a coerência e a integridade na argumentação não fazem mal a quem quer que seja, menos ainda aos dirigentes sociais-democratas locais. Seja como for, não obstante o malabarismo e o sectarismo manifestado, o psd não deixa de ter razão neste ponto. Se for verdade que a turma do ps apregoa a presença do governador civil no seu jantar de natal, os socialistas deveriam sentir-se muito incomodados com o facto. A não ser que, embalados pelo espírito clemente da quadra, queiram e gostem de ser confundidos com Deolinda Simões. Ele há gente para tudo. Em Ourém não é diferente.
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* Embora não seja expresso exactamente assim, presumo que o psd de Ourém queira que António Gameiro seja candidato a presidente da câmara municipal de Ourém.
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