Discutir os incêndios

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Discutir incêndios, como era de esperar, dá azo a polémica. Neste blog, se aliarmos o calor do verão com a proximidade do acontecimento, as discussões teriam que aquecer e vem ao de cima muita coisa: a crítica mesquinha, os dados adquiridos, as verdades insuspeitas, os consensos alargados, o políticamente (in)correcto, o moralismo de e contra os proprietários, os bodes-expiatórios, os 'esfrega-mãos' da indústria de incêndios, a culpa é dos neo-liberais, ou dos incendiários, a falta de canadairs, o ministro que foi de férias, as estatísticas, a demagogia, o centralismo autista, os estudos que foram feitos e que ninguém leu, os livros brancos, a coordenação da protecção civil, os militares nos quartéis, os bombeiros que são uns heróis mas não chegam a todo o lado, as populações que salvaram casas sem ajuda de ninguém, comparações com a Espanha e por último, mas sem ser novidade, novas Leis para juntar às muitas que temos, uma delas que obriga os proprietários a limparem (sob coacção) os seus pinhais e eucaliptais. É claro que a D. Maria, nos seus 75 anos e que tem um pequeno pinhal ali e outro acolá e mais uns hectares espalhados num raio de 50km vai obedecer à Lei e agarrar dos seus 100 Euros de reforma mensal para pagar a limpeza do mato, deve dar para uns metros. Ou o Sr. Manuel, emigrante em França, que nunca recebe nem sabe dos avisos que lhe são feitos pelas entidades locais e nunca se deu de limpar os seus pinhais porque só usufrui da casa em Portugal uns 15 a 30 dias por ano. Já pensou em vender os pinhais, mas a burocracia é tanta neste país que mais vale deixar os terrenos ao abandono. Qual a resposta a dar a isto? Multas? Expropriações? Vai ser o Estado a limpar os terrenos? Com que dinheiro? Com que meios? Durante quanto tempo? Uma coisa é certa. Do que ardeu no concelho de Ourém e por outras áreas deste país, daqui a 1 ou 2 anos vamos ver os primeiros eucaliptos a despontar, para além da primeira vegetação que vai renascer. Daqui a uns anos terão crescido o suficiente para arder outra vez. Daqui a 1 mês, quantos de nós se lembrarão dos incêndios? Daqui a 1 ano, estaremos outra vez a discutir os incêndios. Estaremos dispostos a discutir esta questão de maneira realista e estrutural? Queremos mesmo e poderemos resolver este problema a longo prazo? O problema dos incêndios vai-se resolver com mais leis? Com os militares? Com centrais de biomassa? Com a compra de mais canadairs? Mais prevenção? Melhor combate? Fica aqui a pergunta, aberta à livre discussão. Porque aqui não existem iluminados, nem gurus, nem detentores da verdade e das medidas-fáceis ou os que apontam o caminho. Digam o que pensam de livre vontade, mas tentem não se desviar do assunto em verborreia barata que não leva a lado nenhum. Não é por falta de oportunidade.

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Na minha opinião, o melhor seria a gestão comunitária da floresta, supervisada pelos poderes locais.

Concordo com a Elvira (já aqui o sugeri): a gestão comunitária (forçada ou não!) seria a melhor solução, com os custos da gestão a serem suportados pelos resultados da dita gestão. É claro que isto não é simples, mas é a única saída que vejo para isto.

Ah! E eu sou daqueles que não acredita em "fogos que começam exactamente depois das avionetas passarem"... Acredito, isso sim, que a esmagadora maioria dos fogos acontece por descuido e falta de cuidado. (Ainda hoje, à beira da A1, vi dois sujeitos a fazerem uma queimada de lixos como se fosse a coisa mais natural do mundo...)

Discutir incêndios resulta sobretudo uma sazonal catadupa de informação que pareçe não ter ponta por onde se lhe pegue (ou ninguém lhe quer pegar) informação essa que é gerada pelo mediatismo que roda à sua volta e onde naturalmente toda a gente têm a sua opinião para dar/testemunhar.
Já aqui publicaste ao longo deste ano vários tópicos sobre o assunto, muito antes dos incêndios, ainda reçentemente publicaste dois links para um artigo de antónio Campos e outro para o artigo do Gonçalo Ribeiro Telles, sobre o primeiro repito o que por não ter aqui podido comentar deixei no blogue www.cduporourem.blogs.sapo.pt que dizia o seguinte:

Via o castelo li o comentário do ex-eurodeputado socialista antonio campos "Governo deve proibir financiamento ao pinheiro"

Este ano conheci um biólogo investigador da universidade de Évora que elaborou um programa informático para o Ministério da Agricultura em que tendo sido introduzidos todos os dados relativos às características do território (como temperaturas médias mínimas e máximas, humidade, precipitação altitude, geologia etc.) tornou possível que ao introduzir as exigências ecológicas das árvores naturais e cultivadas do nosso país o referido programa desenhasse o mapa da distribuição para cada espécie onde o seu desenvolvimento é óptimo. Ao falar deste programa referiu por exemplo que constata-se que para o eucalipto por exemplo o seu desenvolvimento acima dos 400m de altitude é altamente improdutivo, e concluiu dizendo que se fosse eliminado destas zonas onde não tem qualquer produtividade conquistar-se-iam uns milhares de hectares de floresta para espécies mais adequadas.

Tudo isto para dizer que este título fundamentalisma contra o pinheiro do sr Antonio Campos, no meio de alguma coisa acertada que diz está absolutamente errado nos seguintes aspectos:
Quem diz que um pinheiro é vendido ao fim de 12 anos, não só não sabe as inúmeras utilidades económicas do pinheiro como provavelmente nada sabe sobre o seu ciclo de vida, e quando diz que não dão trabalho nenhum só pode estar a referir-se ao trabalho que lhe dão a si mesmo.
Sou obviamente contra o regime de monoculturas, mas ao defender o pinheiro faço-o pelo seguinte motivo, porque a sua madeira tem inúmeras utilidades para a indústria portuguesa como a do mobiliário e outras, as quais no meu entender é preferível manter com madeira de produção nacional do que andar a destruir a floresta tropical à bruta.
Quanto aos carvalhos bétulas e castanheiros estou absolutamente de acordo (embora coloque reservas quanto às bétulas pois é uma espécie Euro-siberiana de distribuição muito restrita no nosso país).

No geral esta conversa vinda de um político que faz parte de um partido que tem integrado tantos governos nos últimos 30 anos, é simplemente uma mistura de demagogia com ecologismo fracamente sustentado do ponto de vista científico, a mais o que me indigna profundamente é que os jornais andem ao colo com esta gente e não publiquem mais informações com académicos e pessoas que estão no terreno e sabem do que falam (existem em portugal doutorados e doutorandos em incêndios, já alguém alguma vez os viu ou leu o que publicaram?).

Assim nesta espiral de mediocridade temos todos os anos os sucessivos governos a regogizar-se de que houve menos área florestal ardida! como ainda ontem o sr António Costa fez. Está tudo dito.

Sobre o Gonçalo Ribeiro Telles, pessoa sobre a qual tenho o maior respeito e cujo livro "A Árvore em Portugal" escrito com Cabral, recomendo vivamente a quem se interessar pelas questões da floresta.
Gostaria apenas de dizer que a limpeza das florestas não é um mito como disse G.R.Telles, não sendo apenas a opinião generalizada com base no senso comum como também de muitos especialistas na área florestal. Além do mais o título do artigo acaba por desviar dos assuntos com maior pertinência que ali abordou, nomeadamente o maior aproveitamento da floresta,(acrescentos meus subjacentes ao assunto) como a apicultura (por exemplo o medronheiro além de produzir inúmeras flores muito visitadas por abelhas, produz os frutos que podem ser utilizados em licores), a esteva que em muitos locais é considerada mato e um estorvo possui óleos e resinas nas suas folhas muito bem pagos pela indústria da cosmética e perfumaria, e por aí fora.

Posto isto já todos percebemos que nem o mais básico está feito, como os cadastros dos terrenos e a desburocratização nas finanças (e quantas vezes as pessoas são empurradas-numa atitude quanto a mim suspeita - para empresas que tratam destes assuntos, mas esta é outra questão).
O que impede uma Câmara Municipal e/ou Junta de Freguesia de adquirir meios mecãnicos e humanos para realizar um serviço a preço de custo valorizando o património da sua área geográfica e a qualidade de vida dos seus habitantes.
Sobre emparcelamentos ou outras formas de agrupamento/organização é bom lembrar que para florestar nem sempre é preciso andar a fazer movimentos de terras com maquinaria pesada, movimentos estes que devem quando necessários ser paralelos às curvas de nível do terreno e não perpendiculares como infelizmente tantas vezes se vê.

Acaba com uma coisa que eu acho uma piada enorme, sou formado em Biologia Vegetal Aplicada (recentemente extinta na Faculdade de Ciências de Lisboa único local do país onde existia) este ramo da biologia também vocacionado para a Biotecnologia Vegetal formava anualmente em média 10 alunos (por falta de preenchimento das 30 vagas) a larga maioria nunca teve um verdadeiro emprego, alguns reçebem as míseras bolsas de investigação de 700 euros, os melhores fazem doutoramentos e desesperam com o futuro, que raio de país é este, começei este ano a fazer um projecto de investigação, que teoricamente só seria para começar em outubro mas enquanto trabalhador-estudante começei mais cedo para adiantar trabalho (até porque o material vegetal que estudava têm os seus ciclos) qual não é o meu espanto quando me disseram que para fazer este projecto de investigação no âmbito do estágio cujo nome com o processo de bolonha passou a Curso de Especialização em Biologia e passou a pagar-se 1000 euros para o realizar, ou seja eu tinha de pagar para fazer investigação, surrealista não é! e dizem que não temos pessoas formadas (para não falar de inventonas de cursos que se vão criando só para acabar com os mesteres, ou seja o grande capital na sua lógica cria cursos só com intuito de destruir direitos conquistados por formações que há muito detém áreas específicas....)

É por estas e por outras que temos um déficit alimentar na balança comercial superior ao dos combustíveis fósseis.

Para acabar, como todos lambemos botas aqui no castelo pelo forma caprichosa como tem sido gerido, saudações aos seus colaboradores e visitantes

Sou proprietário de um pequeno apartamento que se encontra no mesmo prédio onde outros pequenos apartamentos de diferentes proprietários existem. Como o prédio tem partes que são de todos e não são de ninguém existe o condominio para tratar da manutenção dessas partes. O custo dessa manutenção é proporcionalmente suportado por todos...
A implementação de uma coisa do género para a manutenção das pequenas propriedades florestais não seria uma ajuda contra os incêndios?
Eu penso que sim e proponho por isso a criação do "condomínio florestal"!!

Incêndios.
Gostaria de esclarecer alguns assuntos em relação á vida de Bombeiro que tanto tem sido alvo de criticas por algumas localidades do nosso Concelho.
È triste ver-me exausto eu e milhares de Bombeiros por este País fora!!! Eu e tantos outros camaradas de trabalho de uma "luta", "luta" essa que é muito desigual.
Nas TV só se dá protagonismo a alguns sitios deste país, outros são esquecidos como se nada acontece-se de relevante.
Gostaria de esclarecer o que é ser Bombeiro Voluntário e como é ser Bombeiro Voluntário neste País.
1º Gostar de ajudar o próximo.
2ª Não esperar qualquer tipo de reembolso, a não ser aquele que para nós é mais precioso o Obrigado das Pessoas, o contentamento de saberem que tudo foi feito para minorar os prejuízos.
Ter de respeitar normas Internas serviços de Saúde 1 vez por mês 12h onde nos oferecem o almoço este serviço é efectuado ao Sábado ou Domingo, depois dormir 2 noites de 32 em 32 dias das 22h ás 7h para uma 1ª intervenção seja Acidente, cheias,Incêndio etc...
Em Janeiro começam os exercicios semanais ao Domingo de manhã onde são efectuados vários tipos de exercicios.Temos também cursos a frequentar para nos mantermos actualizados quer a nível da saúde quer a nível dos Incêndios ou Telecomunicações, tudo isto sem receber um tostão, já se poderá tirar uma ilação de o nº de horas que temos de dedicar a esta nobre causa que é o Voluntariado.Os chamados GPIs ( Grupos de Primeira Intervenção ) è constituido Apenas por 7 elementos 5 no Veiculo Florestal e 2 no Veiculo Tanque estes elementos no minimo estão uma semana 24h de serviço sem ir a casa são os únicos que recebem a avultada quantia de 2€ á hora, Arriscando a sua vida um vigia florestal recebe mais e descansa 2 dias por semana.
este é um exemplo de como se tem que gostar de ser Bombeiro.
Quando sirene toca e faz aquele barulho ensurdecedor que nos toca cá dentro, qualquer dos Bombeiros que vá socorrer o que quer que seja não recebe nada,quantas e quantas horas dedicadas ao Voluntariado sem nada receber em troca. Quantas não são as vezes que andamos mais de 24h nos Incêndios onde a logistica (Alimentação) não aparece, o cansaço é enorme o fumo inalado uma constante o ardor dos olhos etc... o corpo tão depressa anda todo molhado como daí por uns segundos já estamos todos secos e cheios de calor. Quantas não foram as vezes que vimos a nossa vida em perigo "ver uma luz ao fundo do túnel" uma expressão recentemente utilizada por um colega.
É este o Governo que temos que não dá apoio nenhum ao Voluntariado, não temos um sistema de saúde próprio, viaturas com 30 anos, Equipamento individual de bombeirop não existe a maior parte das fardas somos nós que temos de comprar para andarmos minimamente apresentáveis o Governo tem a obrigação de nos dar melhores condições pois nós servimos a População em geral fazemos parte da Proteção Civil estamos a ficar cansados de tudo.
Em 2003 foi criado um Livro Branco cujo objectivo seria apontar as proncipais lacunas dos Bombeiros estamos em 2005 e nada foi feito, será que ninguém do Governo sabe ler ?? Pelos vistis ninguém leu o livro!!!
felizmente cheguei hoje a casa já cá não vinha desde Sábado, queimei a face no dia 7 de Julho de 2005 num Incêndio numa Fábrica tive queimaduras de 1º 2º grau o seguro que temos é uma merda e apoios nenhuns! Da fábrica nem um telefonema a perguntar o nosso estado de saúde sim porque fomos 5 Bombeiros que nos queimamos com uma explosão,estou proibido de ir para incêndios e para a Praia este ano pelos médicos, mas tenho de assegurar o serviço de Saúde pois os Bombeiros não apagam só Incêndios fazem "Tudo um Pouco".
É triste como podem haver populações revoltadas com os Bombeiros no nosso concelho, quando arriscamos a nossa própria vida para salvar bens e pessoas sem a olhar a meios é óbvio que com este periodo de seca a escasses de meios é um dado relevante, não conseguimos estar em todo o lado ou por outra ter 1 carro em cada em casa.
Mas pelos vistos são mentes arcaicas que não têm uma visão realista das coisas, a essas pessoas que tanto disseram mal dos Bombeiros esperam que dia nenhum se possam vir a arrepender do disseram e ameaçaram os Bombeiros.
Espero ter deixado algum contributo e esclarecimentos acerca dos Bombeiros para que falsas polémicas não se levantem.

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