operação «o dever de esclarecer a opinião pública quando os promotores deste tipo de atitudes ultrapassam as marcas da decência aceitável»

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O discurso de perna curta e a moral de pacote são sintoma de coisas várias, nenhuma com nome bonito. Tomando como referência a declaração política do presidente da câmara municipal sobre a hipótese de alienação do edifício dos monfortinos, segue uma ilustração da miséria que subjaz a tais discurso e moral.
Atente-se nas palavras adiante.
Não é assunto que nos surpreenda pois já em tempos atrás os mesmos dirigentes partidários promoveram um abaixo assinado com propósitos diferentes mas contornado pelos mesmos princípios que repudiamos pois, não obstante, o direito que assiste a todos em promover os abaixo assinados que entenderem, tal não deve ser assente em deturpações da realidade, em desinformações perigosas, em tentativas de confundir a opinião pública e os cidadãos.
Todos nos lembramos quando se angariaram assinaturas contra a concretização do centro escolar ourém nascente, dizendo às pessoas para assinarem porque a actual câmara municipal queria obrigar os alunos do vale travesso a matricularem-se neste centro escolar situado entre alburitel e seiça.
Eloquente, não é? Porque repudia «deturpações da realidade», «desinformações perigosas» e «tentativas de confundir a opinião pública e os cidadãos» - pelo menos pelo bem da harmonia social do município, contra as «atitudes que ultrapassam as marcas da decência aceitável» -, o presidente da câmara municipal entendeu acusar quem propôs o abaixo assinado contra a localização do centro escolar em fontaínhas de seiça de «faltar à verdade de uma forma objectiva e clara», de promover uma «mentira boateira», assente numa «alarmante e assustadora falsidade», por invocar «algo que não se verificava, não se verifica e nunca se verificou». O raio em toda esta verborreia de moralão é que o libelo não tem qualquer fundamento, porquanto o município apresentou a proposta de construção do centro escolar em fontaínhas de seiça nos termos seguintes:
"pretende-se construir um (...) centro escolar (escola básica ourém nascente), na zona este do concelho com o objectivo de centralizar os alunos de três freguesias: freguesia de seiça (lugares de coroados e seiça), freguesia de nossa senhora da piedade (lugar de vale travesso) e freguesia de alburitel (lugar de alburitel). Com a construção do centro escolar ourém nascente perspectiva-se encerrar os seguintes estabelecimentos de ensino: eb1 de coroados abrangendo 21 alunos; ji de coroados abrangendo 18 alunos; eb1 de seiça abrangendo 23 alunos; ji de seiça abrangendo 21 alunos; eb1 de vale travesso abrangendo 32 alunos; ji de vale travesso abrangendo 17 alunos; eb1 de alburitel abrangendo 40 alunos; ji de alburitel abrangendo 19 alunos. (...) A entrada em funcionamento do centro escolar ourém nascente irá contribuir para a dinamização da gestão da rede de escolas do concelho, proporcionando melhores condições de estudo e lúdicas aos alunos das 3 freguesias aqui enunciadas e do concelho de ourém."
Como se constata, o que, segundo o presidente da câmara municipal, «não se verificava, não se verifica e nunca se verificou», verificou-se e verificava-se de facto e não há como ele não ter conhecimento disso. Não é «mentira boateira», não é «alarmante e assustadora falsidade», por conta da maioria socialista na câmara municipal, o município assumiu junto do ministério da educação transferir as crianças que frequentam o jardim de infância e a escola do primeiro ciclo do ensino básico de vale travesso para o centro escolar a edificar em fontaínhas de seiça. Isto é insofismável, assente em documento público, datado de 29 de julho de 2010. Pelo que, até 3 de setembro de 2010, pouco mais de um mês depois da data de tal documento, se alguém de vale travesso subscreveu algum texto onde constava informação consonante com a proposta apresentada pelo município não o fez por ter sido enganado, como assentou agora de modo tão estúpido quão estulto o presidente da câmara municipal.(*) Aliás a estupidez e a estultícia manifestadas são tanto maiores e escusadas quanto o caso já havia sido denunciado e exposto de modo documentado pelos vereadores do psd (vide acta da câmara municipal de 06.10.2010, pp. 17-18).
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Perante isto percebe-se que, quanto à hipótese de alienação do edifício dos monfortinos e ao processo político associado, para o pessoal do ps não bastava o ranço político manifestado pelo vereador com o pelouro fátima, a incapacidade de aduzir argumentos resistentes a um exame ajuizado e o enredo esconso do caso, era necessário acrescentar comportamento com falta de asseio para compor o ramalhete. Ora que confiança suscitam ou justificam os actos e as declarações de quem revela não escrutinar meios e modos para tentar convencer os oureenses? Em termos políticos, qual é o limite das contradições manifestadas pelo presidente da câmara municipal? Note-se ainda que neste caso o problema não respeita apenas ao comportamento do presidente da câmara municipal. Convém não iludir que, em torno dele, há quem revele estar disponível para dar caução a tal comportamento. Só na conferência de imprensa em que foi apresentado o comunicado subscrito pelo presidente da câmara municipal havia mais quatro almas. Será que o pessoal eleito pelo ps para a câmara municipal, assim como os chefe de gabinete e adjunto do presidente da câmara municipal, julgam que é por via de práticas ignóbeis que conseguem que seja reconhecido crédito político às propostas que defendem? Pousaram cinco para a fotografia e no sindicato de tais cinco não há uma réstia de responsabilidade política? No cérebro de tais cinco há algo que os impeça de perceber que não é prática política lhana fazer imputação moral a comportamentos de outrem usando o tipo de comportamentos que pretendem censurar e que, afinal, como atestado, os outros não usaram? É assim tão difícil para o pessoal eleito pelo ps para a câmara municipal respeitar-se e respeitar os oureenses? E, já agora, onde é que andava o até sábado último líder local do ps quando se justificava que ele tivesse vindo aí berrar o imperativo «tenham juízo» para os comparsas do partido político? Pois. O caso é, porque continua a ser, para rir e preocupar.
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(*) O abaixo assinado contra a localização do centro escolar em fontaínhas de seiça - e não «contra a concretização do centro escolar», tout court, como assentou o presidente da câmara municipal - foi apresentado em sessão da assembleia municipal realizada no princípio de setembro último (vide acta da assembleia municipal de 03.09.2010, pp. 55-56).

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