Da arte de comunicar para esclarecer sem esclarecer porque afinal o caso era diferente do que o esclarecedor queria esclarecer, dando-se o caso de o esclarecedor não estar esclarecido e não ter esclarecimento sobre o caso, mas bem podia ter se


Em vários títulos da imprensa local (Jornal de Ourém, n.º 47, 24.setembro.2009, p. 16, Notícias de Fátima, n.º 480, 25.setembro.2009, p. 19, Notícias de Ourém, n.º 3742, 25.setembro.2009, p. 6 e Ourém e seu Concelho, n.º 898, 30.setembro.2009, p. 11) foi estampado, para ser pago como publicidade, um comunicado do presidente da câmara municipal, a propósito de um assunto que, como manifesto, está relacionado com a campanha eleitoral e acções do ps. Quatro notas.
Um. Por estes dias de galopinagem, é importante saber onde é que acaba «Vítor Frazão, presidente da câmara municipal» e começa «Vítor Frazão, candidato a presidente da câmara municipal». É importante porque, embora Vítor Frazão acumule as duas condições - a de presidente do executivo municipal e a de candidato a esse cargo -, não deve haver confusão entre uma e outra. E não deve haver tal confusão por dois motivos, um de lei, outro de palavra. O motivo de lei decorre do facto de Vítor Frazão, enquanto presidente da câmara municipal, dever ser imparcial no âmbito da sua acção e, enquanto candidato a presidente da câmara municipal, poder usar apenas os mesmos meios consignados aos demais candidatos. O motivo de palavra decorre do facto de Vítor Frazão ter afirmado possuir uma panóplia de virtudes - entre as quais pontificam a responsabilidade e a seriedade - pela qual pauta a sua prática tanto como presidente da câmara municipal quanto como candidato a presidente da câmara municipal. Ora, se é facto que o comunicado referido foi subscrito pelo presidente da câmara municipal e publicado a expensas do município, é também facto que tal comunicado serve igualmente o candidato a presidente da câmara municipal do psd, sem que a direcção de campanha deste partido político despenda qualquer cêntimo. Aliás, não por acaso, no Notícias de Ourém, ao lado do tal comunicado, surge um artigo de opinião de Ângela Marques, dirigente local do psd e chefe de gabinete do presidente da câmara municipal, que versa a mesma matéria e tem o mesmo sentido.
Dois. Vítor Frazão, que se tem proclamado repetidamente como respeitador, podia ter aproveitado a oportunidade do comunicado para revelar um respeito maior pela língua portuguesa e, através do expediente de comunicação institucional que usou, pelo município. Um comunicado de um presidente de câmara municipal não deve ser uma mensagem que trata o português a pontapé. Porque um comunicado institucional que trata o português a pontapé, para além de enxovalhar pessoalmente quem o subscreve, atinge inevitavelmente a imagem da instituição que o subscritor representa.
Três. O comunicado promete. Mas o comunicado não cumpre e erra rotundamente o que era suposto acertar. O que, no caso, para além de ser uma operação de comunicação institucional falhada, constitui um desperdício de dinheiro público. Vamos por partes. Vítor Frazão, que, como candidato a presidente da câmara municipal, já afirmou não precisar de Augusto Mateus para delinear uma proposta estratégica para orientar o desenvolvimento de Ourém, enquanto presidente da câmara municipal reconhece que Augusto Mateus é o responsável principal pelo plano de desenvolvimento territorial para o médio tejo, plano sob orientação do qual o município de Ourém apresentou uma série de candidaturas ao abrigo do qren, estando já assegurado o financiamento para os objectivos inscritos nas candidaturas que foram aprovadas. Em face disto, vale, pois, e não pouco, a coerência de Vítor Frazão e, por via da palavra dele e por junto, do psd. Mas o mais caricato não é isto. O mais caricato é Vítor Frazão confundir o plano de desenvolvimento territorial do médio tejo, que é um plano para um território alargado - que congrega vários municípios -, com a proposta da estratégia para o desenvolvimento de Ourém apresentada pelo ps, que é um plano de dimensão municipal. Ou seja, estão em causa duas escalas distintas. E se já tinha coordenado a elaboração do plano de desenvolvimento territoral para o conjunto do médio tejo e do pinhal interior sul, mais recentemente, a solicitação do ps, tendo como referência justamente aquele plano, Augusto Mateus delineou um conjunto de orientações estratégicas específicas para o município de Ourém. Como surge óbvio, qualquer pessoa minimamente disposta ao esclarecimento percebe que uma e outra são intervenções distintas. Aliás, se quisesse, Vítor Frazão podia ter evitado tamanha manifestação de ignorância em relação ao assunto. Bastava-lhe saber o que é um exercício de planeamento municipal ou perguntar a quem conseguisse explicar-lhe. Se tal soubesse ou ousasse buscar esclarecimento sobre a matéria em causa, talvez não se tivesse lançado num exercício de elucubrações fora de escala e desatinadas e que, agora, postas a público, lhe valem o embaraço e a vergonha, por ter revelado não saber sobre o que é que estava a pronunciar-se. E, convenhamos, de certeza que há coisas que justificam muito mais a realização de despesa municipal do que um comunicado que, para além de mal escrito, serviu sobretudo para revelar a ignorância de Vítor Frazão em relação ao plano estratégico para o desenvolvimento de Ourém apresentado pelo ps e ao modo como tal plano foi concebido.
Quatro. A intenção e o conteúdo do comunicado não é motivo de espanto. Não obstante a barragem de ilusionismo em que o psd local investe, a capacidade de planeamento não é pergaminho que esse partido político tenha para apresentar por cá. Dois exemplos eloquentes, entre outros. Primeiro exemplo. Num processo rocambolesco, o pdm demorou anos e anos até ser aprovado, andou em bolandas - Ourém foi mesmo um dos últimos municípios portugueses a ter um pdm eficaz -, e o produto está à vista: um documento amanhado à podoa, com tantos erros e tão desadequado à realidade local que há muito tempo é consensual a necessidade de o rever profundamente. Para que conste, tal necessidade já foi reconhecida pelo psd durante a campanha eleitoral anterior, acontecida há quatro anos. Segundo exemplo. A carta escolar foi aprovada, desaprovada e reaprovada há pouco tempo. Mas, agora, embalado pelo veio de inaugurações a que se tem dedicado com ímpeto semelhante ao de Usain Bolt a correr o hectómetro, Vítor Frazão informou que vai ser feito «um estudo de reanálise da carta escolar», para, ao contrário do que tem sido tendência e referência assumida, tentar viabilizar um «mini complexo escolar» em Formigais, freguesia que, segundo o mesmo, tem «uma escassez de alunos que pode pôr em causa a existência tanto da escola quanto do jardim infantil» (vide Notícias de Ourém, n.º 3742, 25.Setembro.2009, p. 2). Por tudo isto, não surpreende que, ao mesmo tempo que afirma ter uma noção clara das necessidades do município de Ourém e do sentido a dar-lhe no futuro, Vítor Frazão tenha anunciado a intenção de promover a criação de uma equipa que faça o diagnóstico da situação local e proponha uma linha de rumo para os oureenses. Pelo que se vai percebendo, isso é, porque continua a ser, necessário. E entende-se porquê. Se Vítor Frazão e quem o acompanha no psd e no município não têm consciência da necessidade de considerar os termos de orientação definidos por Augusto Mateus no plano de desenvolvimento territorial do médio tejo e que têm implicação sobre a estratégia para o desenvolvimento de Ourém, alguém fora dessa rede e desse enredo tem que ter tal consciência e ser consequente.

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