The times they are a-changin'


Um dos problemas de Ourém é a incapacidade local de fixar ou atrair mão de obra com qualificação elevada. O exemplo mais flagrante disto é o facto de muitos jovens oureenses graduados e pós-graduados trabalharem e habitarem em lugares distantes, o que os tende a afastar daqui. Se por ora o efeito deste problema é mitigado, a prazo, numa economia cada vez mais assente no aproveitamento de competências científica e tecnicamente intensivas, é provável que limite a afirmação dos empreendimentos locais que não dependem do filão turístico de Fátima e, num sentido mais alargado, limite também a afirmação do conjunto da comunidade oureense. Pelo que, se este fenómeno não for encarado como problema e combatido, a migração da juventude mais qualificada tenderá a afectar o potencial de criação e inovação local e, portanto, a condicionar negativamente a produtividade e a capacidade competitiva das empresas existentes cá e, por efeito agregado, do município.
Sendo este um dos problemas estruturais que importa resolver ou atenuar em Ourém, constata-se que, através de artigos publicados na imprensa local, vários militantes e dirigentes locais do psd, que não se assumem e identificam enquanto tal - afinal padecem do mesmíssimo síndroma de que acusaram sofrer os cartazes de candidatura do ps -, têm afirmado e defendido posições tão compatíveis com os vapores ideológicos salazarengos quão afastadas dos princípios que vigoram sob o modelo social-democrata consolidado na europa. A matriz conservadora do psd local revela-se assim em todo o esplendor. A cultura de opacidade e a prática autárquica assente nessa cultura confluem com valores que não primam pela modernidade e que chocam com os valores prevalecentes entre as gerações mais novas. Não é de um partido político com este tipo de orientações, cujos dirigentes se comportam como se fossem membros de uma célula confessional - Vítor Frazão, por exemplo, afirmou recentemente que "não deve haver uma separação entre a igreja e o poder civil" (in Notícias de Ourém, n.º 3735, 24.Julho.2009, p. 7) -, que é de esperar a mudança necessária por cá. Porque tal mudança, a mudança necessária, não é uma mudança cosmética, é uma mudança profunda, ao nível das atitudes que orientam os procedimentos e os processos do município, com potência reestruturadora, sintonizada com os tempos novos. Por outras palavras, é preciso uma mudança que, entre outras consequências, abra a comunidade à diferença e às oportunidades e aos valores que essa mesma diferença acrescenta. Caso contrário, persistindo a perda de um factor fundamental de valorização local - como é o caso da juventude qualificada -, é muito provável que o futuro de Ourém esteja ou continue a ser penhorado.

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