Incêndios

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8 Comentários

Os incêndios

Todos os anos a mesma merda:

FOGO!
FOGO!
FOGO!
FOGO!
FOGO!

Mas que raio se passa neste país?

1. Despovoamento/desertificação das zonas rurais e consequente concentração da população na faixa litoral desde a foz do Sado para norte, em especial nas duas megalópolis portuguesas(Lisboa e Porto) que no seu conjunto congregam metade da população portuguesa (+/- 5 000 000 hab.);

2. Como consequência do aludido no ponto anterior, a centralização do poder político e administrativo em lisboa, o que torna as pessoas que exercem esse poder desligadas das realidades regionais e locais;

3. O controle político e administrativo da maior parte dos (nossos e tão celebrados [como se os tivéssemos inventado]) concelhos por parte de caciques que se orientam a si e aos seus sem realmente olharem à "coisa/causa pública", em especial dos menos populosos e menos urbanizados. [1]

4. Por outro os grandes interesses económicos, ligados à indústria da celulose, têm vindo a favorecer, através de lóbis centrados sobre Lisboa, o manejo sustentado de espécies florestais de crescimento rápido, em especial do eucalipto. Esta política de florestação, a monocultura do eucalipto, é, de facto, um dos grandes factores que tem levado à secagem de centenas de fontes naturais, à diminuição da biodiversidade florestal, quer vegetal, quer animal.

5. Os interesses das populações, ainda residentes, passam, também, pelo aproveitamento máximo de todos os recursos disponíveis; em eras de antanho, a floresta do país, em especial nas zonas de minifúndio, servia, na diversidade dos seus produtos, o quotidiano das pessoas. Tudo servia para alguma coisa: a caruma servia para atear o lume, as pinhas idem, a carrasca para queimar, a bolota para dar aos porcos, o mato para fazer a 'cama' dos animais, a madeira para as vigas da casa, para os móveis, enfim, para os mais diversos fins, tudo tinha uma utilidade concreta o que permitia manter a mata limpa. Com o desenvolvimento da economia neo-liberal e consequente deslocação das populações rurais para as cidades, essas necessidades deixaram de o ser, havendo um abandono da floresta, excepto para cortar o pinho/eucalipto com destino às indústrias de serração e celulose.

6. Os industriais da madeira também têm interesses, uma vez que podem comprar a madeira queimada mais barata.

7. Acresce a tudo isto a especulação imobiliária, que faz arder zonas limítrofes às grandes cidades, para que se possa ganhar novos terrenos para a construção, mesmo havendo em Portugal 500 000 casas a mais.

[1] se sobre o Isaltino Morais, caem as suspeitas que caem, presidindo ele a um concelho com duas centenas, ou mais, de milhar de pessoas, com uma boa percentagem de diplomados no ensino superior, ou seja, uma considerável massa crítica... imaginem o que pode fazer o presidente de uma câmara com 4000 habitantes, ruralizados, idosos, sem escolarização (a não ser a do padre).

Disse muita coisa certa mas isto:

Com o desenvolvimento da economia neo-liberal e consequente deslocação das populações rurais para as cidades, essas necessidades deixaram de o ser, havendo um abandono da floresta, excepto para cortar o pinho/eucalipto com destino às indústrias de serração e celulose.

Desenvolvimento da economia neo-liberal? Em Portugal? Onde? Em Portugal temos uma economia socialista, ou social-democrata, não temos nem nunca tivemos uma economia liberal a sério (daquela que não é planeada num gabinete central de Lisboa), quanto mais 'neon'-liberal. O chavão 'neon-liberal' fica sempre bem em qualquer frase, mesmo que não tenha nada ver com o que se está a discutir. A floresta ficou ao abandono devido à fuga da população do interior para as cidades e como exemplo, Espite, é uma freguesia que se esvaziou por completo com a emigração. Emigraram todos porque apesar de viveram numa floresta que lhes dava lenha para casa e aquecimento ou alimento para animais, vivia-se na mais dura pobreza. Toda a gente tem um pinhal, mas estão todos por longe. Os que lá ficam, são poucos e velhos. Quem é que se preocupa em limpar pinhais? Muito poucos. Quando existe um interesse económico em manter o pinhal, como acontecia 100 anos atrás, toda a gente dependia dele para alguma actividade e ele era limpo. Hoje em dia isso não acontece. No fundo, o que está a arder é todo um modelo de desenvolvimento agrícola, que foi iniciado no séc XIX com o povoamento florestal. Modelo esse, que na altura era liberal, passou a ser republicano e depois salazarista e que usou árvores muito pouco apropriadas ao nosso clima. Modelo esse que levou a última bordoada com o abandono da agricultura em Portugal assim que começaram a entrar os subsídios no país. Pode-se culpar muitas políticas e políticos, mas foi sobretudo o planeamento centralista, a má organização do país (as regiões, ou a falta delas) e anos de demagogia (os tais dos Livros Brancos e Campanhas de Prevenção) e política de subsídio para enganar os papalvos que ficamos com o país que temos, um interior despovoado e decadente, um litoral desorganizado e povoado, com duas grandes cidades sobre-lotadas, uma a norte e outra a sul. Falou nos interesses dos madeireiros e a especulação imobiliária. Mesmo que começem a apanhar e condenar os incendiários-criminosos, o que se vai fazer com os incendiários-negligentes (todo o português que tem um pinhal e não o limpa)? Onde está a especulação imobiliária num concelho como Espite? Qual é o interesse mobiliário em Espite? Nenhum. E porque é que se continua a plantar eucalipto e pinheiro-bravo? Para continuarmos a ter mais incêndios? Sobre os interesses dos madeireiros, desconheço o que se está a passar mas retiro algumas notas numa entrevista que li e que foi feito a António Campos:

A madeira do pinheiro não tem valor. Custa cerca de 35 euros a tonelada, é vendida quando as árvores têm uma média de idade de 12 anos e não dão trabalho nenhum. No entanto, o Estado continua a financiar e os serviços a aconselhar a plantação de pinheiros. É bom não esquecer que a nossa floresta era de carvalhos, cuja madeira custa 600 euros a tonelada, e de castanheiros, que vale 750 euros.

O eucalipto interessou às indústrias de celulose. Foi um interesse de circunstância. Há dez anos que o valor dessa madeira é de 25 euros a tonelada. É uma árvore de crescimento rápido, mas já não temos capacidade para competir com a América Latina, onde cresce em metade do tempo e tem uma produção muito maior. Por isso, desde há dois anos que as celulosas também estão a deixar arder os seu eucaliptos. A plantação de eucaliptos decresceu, as pessoas perceberam que foram enganadas. Mesmo assim, mais de metade da floresta portuguesa é de pinheiros e eucaliptos, quando devia ser 90% de carvalhos e castanheiros.

Caro Fred,

O respeito e a admiração não impedem, antes estimulam, o desacordo aqui e ali, nesta ou naquela opinião.
V. é um homem de pensamento liberal assumido. Mas, por favor, não chame a si a defesa da economia neo-liberal, em nome do pensamento liberal. São de histórias diferentes.
O que se chama economia neo-liberal foi-se tornando predominante a partir da segunda metade da década de 70, e quer estender-se a todas as áreas – educação, saúde –, e tem a ver com a instauração exclusiva da regulação da economia pelo mercado. Não pelo mercado-troca dos bens materiais que satisfazem as necessidades, mas pelo mercado na sua expressão monetária, passando a moeda de instrumento do mercado para facilitar as trocas de bens a deus ex-machina.
Não confunda economia neo-liberal com economia descentralizada (ausente dos malefícios do planeamento “num gabinete central”) pois não há economia mais centralizadora, mais polarizadora que a regulada sem constrangimentos pelo mercado; assim como não assimile economia planeada a centralização e gabinetes centrais, pois só o planeamento pode corrigir, se for regionalizado e descentralizador, tendências polarizadoras no necessário e indispensável funcionamento do(s) mercado(s).
Com as melhores saudações.

Economia liberal, economia socialista ou outra qualquer designação que se queira utilizar, está demonstrada uma coisa: do modo que tem sido, nunca teremos a floresta limpa, nunca teremos prevenção. De que vale alguém gastar 300 contos em limpeza se o vizinho não faz?
Na minha óptica, é preciso que algo coercivo traga a prevenção. São necessárias brigadas de limpeza a irem por ali dentro com ou sem autorização do proprietário e a funcionarem em termos gratuitos. Isto indpendentemente de outras acções como abrir caminhos, instalar vigilantes, etc. etc.
Imperativo e gratuito só concebo a protecção da floresta, actualmente, como serviço público e seria nessa perspectiva que os nossos representantes nas autarquias o deveriam considerar.
É preciso mudar completamente a perspectiva. Antes a prevenção decorria naturalmente da actividade no campo, agora tem de ser imposta. Senão é esta desgraça

De Janeiro até 31 de Julho de 2005, arderam 68.290 hectares, sendo que 52 mil hectares arderam apenas no decorrer do mês de Julho.
O Estado Português vai pagar este ano á Helisul e Aeronorte o valor de 24 Milhões de Euros pelo aluguer de meio áereos.

Olá, Fred, Sérgio e demais comentadores.

Sem querer entrar em querelas ideológicas (o Sérgio conhecê-las-á melhor que nós), venho aqui esclarecê-lo de que o comentário que fiz é a reprodução 'ipsis verbi' do artigo que escrevi no meu blogue pessoal o gajo k n tem juízo nenhum! em 11 de agosto, portanto muito antes dos incêndios que atingiram o concelho de Ourém no passado dia 5 em e do de 20 de Julho que atingiu a Pelmá, demasiado perto da região de onde sou natural no concelho.

Ao ler este artigo, bem como os estudos que eram indicados, pareceu-me pertinente colocar o meu artigo que não passa de um desabafo, como comentário.

O Fred fala, e muito bem, da desertificação de Espite que quer-me parecer que não é a única freguesia do concelho com esse problema.

O Fred fala, e muito bem, do preço do pinho: eu bem sei que está barato; quando se está com dificuldades finaceiras, o banco pinho fala logo; o problema é que os juros são demasiado baixos e acabei por não vender... a ver quanto tempo se aguenta!!!!

Está a fazer um bom trabalho com o castelo, Fred!!!

Aproveito, para agradecer, dando provas da minha vaiedade, aos camaradas do CDUporOURÉM, terem publicado o meu artigo/comentário.

Luís Neves

Caro Sérgio Ribeiro, esta discussão ficou parada mas não a esqueci. A respeito da defesa ou não do neo-liberalismo, continuo a afirmar que o termo neo-liberal é um chavão, sem qualquer fundamento, que começou a ser utilizado por uma certa Esquerda orfã e ultimamente foi sendo aproveitado pelos recentes movimentos anti-globalização como um útil bode-expiatório causador de todos os males deste mundo. Melhor que eu para lhe responder, faço minhas as palavras de Mario Vargas Llosa num artigo da Reason:

I consider myself a liberal. I know many people who are liberals, and many more who are not. But, throughout a career that is beginning to be a long one, I have not known a single neoliberal. What does a neoliberal stand for? What is a neoliberal against? In contrast with Marxism, or the various kinds of fascism, true liberalism does not constitute a dogma, a closed and self-sufficient ideology with prefabricated responses to all social problems. Rather, liberalism is a doctrine that, beyond a relatively simple and clear combination of basic principles structured around a defense of political and economic liberty (that is, of democracy and the free market), welcomes a great variety of tendencies and hues. What it has not included until now, nor will it include in the future, is that caricature furnished by its enemies with the nickname neoliberal.

A "neo" is someone who pretends to be something, someone who is at the same time inside and outside of something. It is an elusive hybrid, a straw man set up without ever identifying a specific value, idea, regime, or doctrine. To say "neoliberal" is the same as saying "semiliberal" or "pseudoliberal." It is pure nonsense. One is either in favor of liberty or against it, but one cannot be semi-in-favor or pseudo-in-favor of liberty, just as one cannot be "semipregnant," "semiliving," or "semidead." The term has not been invented to express a conceptual reality, but rather, as a corrosive weapon of derision. It has been designed to devalue semantically the doctrine of liberalism. And it is liberalism -- more than any other doctrine -- that symbolizes the extraordinary advances that liberty has made in the long course of human civilization.

Além disso, quando me afirmo liberal, estou a falar em política, não estou a falar de costumes. E em política, prefiro ser mais libertário do que libertino. Porque os costumes, para mim, pertencem à esfera individual de cada pessoa. É preciso destacar este facto porque muitas pessoas confundem a política com os costumes quando se fala em liberalismo.

ñ keremos mais incêndios no mundo

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