porcos a andar de bicicleta?, nã, nem se sabe se existem bicicletas

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Há algumas semanas, o director do notícias de ourém denunciou uma abordagem que foi feita a ele e a uma jornalista de tal semanário por parte de alguém que subscreve aí uma coluna regular, alguém que também lidera o grupo municipal do ps e até há pouco tempo foi o líder local desse partido político. Atendendo ao que foi publicado, a abordagem referida foi percebida como tentativa de condicionamento da orientação do jornal, tendo havido os avisos padrão em casos do género, de tipo fais attention, avisos que incluíram o alerta em relação a consequências que poderiam decorrer de decisões da câmara municipal.
Perante a denúncia feita, o pessoal do ps ensaiou o mutismo típico de quem pretende evitar comprometer-se com o que foi comprometido. Fenómeno que não deixa de ser surpreendente, dado tal pessoal ser propenso a enxertar retórica de sebo e gongo em declarações por tudo e por nada. Houve uma denúncia grave, denúncia com relevância política evidente, porém ninguém do ps se dignou a tomar posição pública sobre o assunto. Como se fosse nada ou aceitável o que foi exposto em editorial pelo director do notícias de ourém.
O raio da táctica de avestruz queda e calada que o pessoal do ps decidiu usar para iludir o caso é que ela é um recurso político indigente. Tanto que quando essa táctica foi posta a teste não resistiu. E não resistiu porquê? Porque os vereadores do psd tomaram a iniciativa de levar o assunto à reunião da câmara municipal realizada a semana passada, acusando não só a gravidade do que havia sido objecto de denúncia em página e letra de imprensa mas também o silêncio cúmplice ou complacente do pessoal eleito pelo ps para aquele órgão (vide notícias de ourém, n.º 3829, 10.junho.2011, p. 3). Só em consequência desta acção dos vereadores do psd é que o presidente da câmara municipal abandonou a táctica estrutioniforme. Abandonou talvez não seja o verbo adequado. Porque o que ele fez foi insistir na táctica, traduzindo-a em verbo. Na prática, segundo o que foi reportado, o presidente da câmara municipal estatelou-se, estatelou-se à grande, na proporção em que empenou politicamente.
A aterragem resultou do encadeamento de três planos. Num desses planos o presidente da câmara municipal não relevou preocupação com o que foi denunciado. Fixou-se na denúncia e no mérito dela, sem mencionar ou invocar elemento substantivo ou facto que justificasse o desvio da atenção do que foi denunciado para a denúncia. Note-se que após a publicação do editorial em que foi feita a denúncia saíram já três edições do notícias de ourém sem que tenha surgido qualquer desmentido ou versão diferente do sucedido. Tempo e oportunidade para isso mais do que sobejaram. Neste embalo o presidente da câmara municipal chegou mesmo a afirmar que a publicação do editorial foi fruto do deslumbramento do director do notícias de ourém, nunca admitindo que possa ter acontecido o que foi denunciado. Este malabarismo discursivo - que opera como taipal simbólico - permitiu ao presidente da câmara municipal simular passar pela denúncia de uma tentativa de condicionamento da orientação de um jornal local como cão que passa por vinha vindimada, sem detença. O que, em termos políticos, não é apenas patético, é também preocupante e muito.
Em outro plano, ao mesmo tempo que afirmou não pretender comentar o que tenha sucedido - sob o argumento ridículo de tal tratar-se de uma «conversa privada» -, o presidente da câmara municipal derramou considerações e anunciou mágoas a propósito do que foi escrito pelo director notícias de ourém. A coerência do costume. Em determinado momento a manobra roçou o assomo autoritário, designadamente quando, ao afirmar não admitir «que um qualquer senhor venha invocar uma conversa com terceiros que implique o município», o presidente da câmara municipal revelou padecer de afigurações. Como é óbvio, o que ele admite ou não admite neste domínio releva zero. Não lhe foi outorgada qualquer autoridade ou competência sobre o direito de expressão de quem quer que seja. O que significa que, embora o presidente da câmara municipal talvez não tenha consciência disto, ninguém depende de alvará ou licença municipal para manifestar-se sobre assuntos locais do modo que, em responsabilidade, o entender fazer. Os direitos fundamentais e as garantias a eles associados sobrepõem-se às sobrançaria e admissões sejam de quem for. E é assim não por motivo fortuito, dependente da vontade do pai nosso que está na penthouse celeste ou das atenções da nossa senhora da hora da nossa morte. É assim por estabelecimento e imperativo democrático.
Quiçá para arrojar com estilo, ainda num outro plano o presidente da câmara municipal ordenou ao director do departamento administrativo e de planeamento do município a preparação de «formato adequado para que isto seja esclarecido de forma jurídica». O que isto significa ou prenuncia não dá para perceber. Provavelmente significa ou prenuncia nada que tenha ponta por onde pegar. Até porque na origem da coisa está o entendimento do presidente da câmara municipal segundo o qual «o director do notícias de ourém insinuou que há um conluio com a câmara municipal». Não é preciso um domínio sofisticado de ferramentas hermenêuticas ou um nível de literacia dos deuses para perceber que isto não é para levar a sério. Porque o director do notícias de ourém não insinuou o que o presidente da câmara municipal afirmou que foi insinuado. De acordo com o que foi assente pelo director daquele semanário local, foi outrem que sugeriu que. E não foi conluio. Capisce?

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