Pare, Escute, Pense

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Pare, Escute, Olhe, de Jorge Pelicano

Estou muito curioso para saber se é desta que a administração da Verourém - que, segunda a mesma, tem procurado melhorar a programação de cinema (colocando em cartaz filmes recentes) - vai trazer a estreia de nacional de um filme português de grande qualidade a Ourém.

Podemos dizer que não é todos os dias que há « bom cinema português». Ainda assim, quando há, acaba sempre por passar ao lado. Foi «recentemente» o caso de Aquele Querido Mês De Agosto que, na minha opinião, é um filme que diz mais respeito a Ourém do que qualquer coisa alguma vez filmado dentro dos nossos limites administrativos. Mas o cinema português é assim mesmo, cheio de ironias e já habituado à forma como é tratado. Para muitos pode não ser a coisa mais fantástica do mundo, OK, mas certamente que ficaria muito grato se, de vez em quando - só pedimos mesmo de vez em quando - tivesse uma oportunidade para se mostrar, especialmente quando este é de elevada qualidade e o tema que este aborda tem pontos de contacto com a realidade Oureense.

Depois da tremenda estreia no DocLisboa 2009 - à qual tive a sorte de assistir - e ganhar de seguida três prémios na competição nacional, Alexandra Prado Coelho escreveu o seguinte na Ípsilon:

Jorge Pelicano, o realizador do premiado Ainda há Pastores?, quis voltar a filmar a interioridade e o despovoamento. O plano era percorrer uma série de linhas de comboio encerradas em Portugal nos últimos anos, mas acabou por parar no Tua e ficar a filmar aí dois anos e meio. Um filme a que chamou Pare, escute, olhe, porque é precisamente isso que ele nos pede para fazer.

No Tua concentravam-se muitas das histórias que queria contar. Por exemplo, a das promessas dos políticos nunca cumpridas, a do permanente discurso da "solidariedade nacional para com o interior" - Cavaco a decidir acabar com um troço da linha do Tua e, anos depois, a perguntar "o que é que precisamos de fazer para que nasçam mais crianças?"; Sócrates a anunciar o admirável mundo novo da barragem de Foz Tua que vai alagar o vale e acabar definitivamente com a linha do comboio.

Nos dois anos e meio em que Jorge Pelicano filmou no Tua aconteceram quatro acidentes graves na linha e entrou no debate a questão da barragem, que, diz, "vai ditar o fim da linha em nome do progresso para as pessoas que estão no litoral, e sem grandes vantagens para as que ali vivem". O realizador acredita que a barragem "não vai ajudar a fixar as pessoas ali", como prova a história de um jovem agricultor que filmou e que tinha decidido investir na terra e na vinha, contra tudo e contra todos, e pode agora ser obrigado a ir-se embora.

"O filme tem um ponto de vista muito do povo, das pessoas que sofrem com as consequências das decisões dos políticos, das pessoas que precisam do comboio para ir à farmácia". Confessa que no início "ia à procura de histórias de luta e de revolta de um povo", mas não foi isso que encontrou. "Fiquei desiludido por não encontrar essa luta. Mas depois percebi que a história é precisamente essa: não há luta porque já não há gente".


«Cinema Português» ou «Europeu» é coisa que nunca combinou com «Cineteatro de Ourém». É um facto. No entanto estou especialmente curioso para conhecer o rumo que esta estreia nacional vai ter por cá. Se normalmente as minhas esperanças são reduzidas por saber que determinado cinema não está nos parâmetros do «pior» que se faz nos Estados Unidos, desta vez, para além disso, há o acréscimo de já saber de antemão que a película que se segue tem um fotografia péssima no que diz respeito aos tons laranja e rosa. O que certamente não convém a muita cabeça dura. Já imaginaram se a base de tanto voto fielmente colorido começa a pensar?


Teaser de Pare, Escute, Olhe, de Jorge Pelicano

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