sinais, vii.iii

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Intermezzo. Primeiro ponto de ordem. A questão suscitada no conjunto de posts «sinais, vii» é motivada não tanto pela criação do pelouro «Fátima» quanto pelo que tal criação indicia e significa. São iniludíveis as assimetrias existentes no município de Ourém. Apesar das necessidades extraordinárias e do potencial económico patentes em Fátima, não é possível escamotear as carências que existem em grande parte das freguesias de cá. O que acontece ao nível das infra-estruturas, maxime o saneamento básico, é paradigmático. Ora sucede que, apesar de o discurso do presidente da câmara municipal revelar atenção às assimetrias existentes no município e intenção de as combater (vide, em particular, a entrevista in Notícias de Ourém, n.º 3748, 6.novembro.2009, pp. 6-7), entre as palavras e as acções consequentes, que concretizam as palavras, há um hiato maior do que tende a admitir-se. Aliás, é sintomático que, tendo sido criado o pelouro «Fátima», ao mesmo tempo não tenham sido criados, por exemplo, os pelouros «Caxarias», «Freixianda», «Olival» ou «centro histórico». Na prática, Fátima é rotulada «a jóia da coroa», mas encarada e usada como «a galinha dos ovos de ouro». Facto que sugere a continuação da tendência dos mandatos anteriores, com uma acentuação da exploração do efeito de Fátima, focada sobretudo ou estritamente em Fátima, descurando o aproveitamento desse efeito e a sua disseminação, com vantagem para o conjunto do município. O exemplo mais flagrante está relacionado com a continuada falta de vontade ou incapacidade de reter mais tempo parte das pessoas que vêm a Fátima e que poderiam animar rotas e roteiros turísticos, com passagem por outros lugares de Ourém - mas não só -, com a consequente valorização do território em que estão inseridos. Esta oportunidade, que existe, tem sido desperdiçada ao longo dos tempos. E não consta que haja sensibilidade, mobilização ou investimento em Fátima para alterar esta situação. (*)

Segundo ponto de ordem. Como é óbvio, o que está aqui em causa não é travar ou não apoiar o desenvolvimento de Fátima, é a distribuição equitativa dos estímulos e da implicação política na resolução dos problemas do conjunto do município de Ourém. Não se trata de não reconhecer o potencial superior de Fátima, trata-se de que o reconhecimento desse potencial não signifique o abandono das outras localidades às próprias condições e oportunidades. Não se trata de não aproveitar o valor de Fátima ou deixar de contribuir para a sua valorização, trata-se de não continuar a deixar-se desvalorizar o valor de outros lugares e a deixar-se degradar ou não requalificar o que garante as condições de vida aí.

No fundamental, com a criação do pelouro «Fátima», é provável que continue a prejudicar-se a hipótese de um projecto de base, assente na integridade municipal e na solidariedade que lhe deve estar subjacente. Porque no plano institucional - neste caso concreto, no plano municipal - deve haver articulação e integração dos diversos espaços na mesma unidade. Ora, o pelouro «Fátima» e a sua entrega a um vereador definem Fátima como um caso excepcional, à parte. Para além de que, em face do que existe, a criação de tal pelouro parece redundante. Convém não esquecer que, constituída pelo município, existe já uma agência que serve especificamente Fátima, a sru. E, ao contrário do que sustenta o presidente da junta de freguesia de Fátima (vide Notícias de Fátima, n.º 482, 23.outubro.2009, pp. 6-7, maxime p. 7), pode e deve ser criada uma delegação permanente dos serviços municipais aí, num processo de desconcentração e aproximação a um núcleo urbano e demográfico importante. Ainda assim, frise-se isto: tudo o que se justifica fazer em Fátima - e que não é pouco - não pode obnubilar o quão é necessário fazer também em outros lugares, para responder a carências básicas, já satisfeitas nas cidades de Fátima e Ourém.
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(*) A propósito, qual foi o resultado da experiência com o autocarro destinado a trazer pessoas desde Fátima até ao museu da casa do administrador?

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