sinais, vii.ii

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Não espanta que haja quem proclame Fátima como «a jóia da coroa» do município de Ourém. Não obstante, convém não iludir que Fátima é parte da equação municipal. É um termo relevante dessa equação, um dos mais relevantes, mas não é o termo exclusivo do município de Ourém. Como referido, é «a jóia da coroa», não é «a coroa». A propósito, Paulo Fonseca sustenta que "quanto melhor estiver Fátima melhor está o resto do concelho e vice-versa" (O Mirante, n.º 904. 12.novembro.2009, p. 29). Mas este entendimento só colhe se Fátima for perspectivada enquanto parte integrante e integrada no município, não como parte destacada. É por isso que, em termos políticos e da integridade da acção política, faz tanto sentido existir na câmara municipal o pelouro «Fátima» quanto faz sentido existir no governo o ministério «Algarve». Pouco ou nenhum. Os motivos por que assim é são vários, tantos quantos os problemas associados.

Para começar, o pelouro «Fátima» é um pelouro dedicado exclusivamente a uma parcela do município de Ourém enquanto os restantes pelouros foram definidos sectorial e não territorialmente. De imediato coloca-se o problema relativo ao modo como serão compatibilizados estes dois planos. O facto de não haver uma partilha inequívoca de responsabilidades entre os vereadores pode gerar tensões que não são fáceis de arbitrar. Pelo que não é de descartar a hipótese de a criação do pelouro «Fátima» ter proporcionado um espaço de concorrência ou conflito entre membros do executivo municipal.

Outro problema está relacionado com a distribuição da atenção do elenco camarário às dezoito freguesias que coincidem com o território do município de Ourém. Dos quatro com responsabilidades executivas permanentes, haver um elemento com a função de acompanhar quase em exclusivo os assuntos de Fátima produz uma distribuição desigual da atenção aos problemas e aos desafios municipais. Desequilíbrio que, em grande medida, reproduz e concretiza no plano institucional e da organização política local as assimetrias já existentes em Ourém, tendendo a acentuá-las e não a mitigá-las.

Por fim, importa considerar ainda não só a visão quebrada e divida do município - se, por um lado, há quem afirme que «vai quase tudo para Fátima», por outro lado, também há quem afirme que «vai muito pouco para Fátima» - mas também o ressurgimento do movimento pro município de Fátima (vide Notícias de Fátima, n.º 483, 6.novembro.2009, p. 5). Em relação ao primeiro caso, não é negligenciável o efeito simbólico que a criação do pelouro «Fátima» terá nas clivagem e controvérsia que, embora tenham nenhum ou escasso fundamento, existem e têm expressão pública sobeja, nomeadamente no que se refere ao modo como é apreciado e julgado o rateio do investimento municipal pelas freguesias. Em relação ao segundo caso, como alguém já assinalou, com a reanimação do movimento a favor da criação do município de Fátima, tenderão a intensificar-se as solicitações e as exigências a partir daí, suportadas pela mobilização dos fatimenses, sendo tão expectáveis quão prováveis pressões fortes sobre o vereador que tem o pelouro «Fátima», forçando-o a corresponder (*). E isto sem que exista nas restantes freguesias ou localidades um quadro organizado de pressing político capaz de produzir um efeito de compensação ou que, pelo menos, não permita acentuar o desequilíbrio de atenção política já existente.
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(*) Na ressaca das eleições autárquicas, uma figura destacada do psd de Fátima dava como explicação da vitória do ps o facto de Ourém não admitir um presidente da câmara municipal que fosse fatimense e, em consequência disso, defendia a necessidade de reactivar o movimento pro município de Fátima (vide depoimento de António Vieira in Notícias de Fátima, n.º 482, 23.outubro.2009, p. 4).

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