Dos sapientes, oficiais e vigilantes da grã obra local


Os plumitivos de serviço do psd, que por um motivo qualquer não se identificam como tal, como se não fossem parte directa e particularmente interessada na política local ou nacional, acusaram o cabeça de lista do ps à assembleia municipal, José Silva Lopes, de nada saber sobre Ourém e de nada ter feito por Ourém. Este é um modo mesquinho de marcação política, fraco no argumento e típico do bafio conservador que militantes e dirigentes do psd têm vindo a revelar pública e ostensivamente.
Começando pela ignorância de José Silva Lopes sobre a realidade oureense, parte da qual ele admitiu, embora não com a magnitude que outros pretenderam imputar-lhe, não é mal demasiado ou grave, no sentido em que pode ser resolvido fácil e rapidamente. Isto sabendo-se que por cá existem pessoas mais do que informadas e esclarecidas, como os eleitos do psd nos órgãos municipais, que cometem erros e fazem disparates que alguém que desempenhe as suas funções com responsabilidade jamais deveria cometer ou fazer. Por exemplo, recentemente a câmara municipal aprovou um plano de ordenamento do território, remeteu-o para a assembleia municipal para apreciação e aprovação definitiva, mas depois o presidente da câmara municipal solicitou que tais apreciação e aprovação fossem adiadas, por entender ser necessário continuar a reflectir sobre o assunto. Ou seja, na prática, a maioria do psd na câmara municipal aprovou um instrumento fundamental para o ordenamento de uma parte do território de Fátima com tantas reservas ou irresponsabilidade que, após essa aprovação, sentiu necessidade de entrar em reflexões suplementares. Como se percebe através deste caso, a questão relevante não é o conhecimento que quem quer que seja tem ou não tem sobre a realidade oureense, realidade que, não sendo um mistério e havendo quem possa transmitir informação fiável, qualquer pessoa apreenderá e perceberá depressa e sem dificuldade, se quiser. O que é importante é a responsabilidade com que se desempenham as missões. Responsabilidade que, atendendo à experiência e às missões desempenhadas por ele, provavelmente não falta a José Silva Lopes. Pelo menos não há-de faltar em medida maior do que exemplos vários indiciam faltar aos autarcas eleitos cá pelo psd, que como é sabido são conhecedores extraordinários da matéria local. Tanto, tanto, mas mesmo tanto, que, outro exemplo eloquente, propuseram e aprovaram o orçamento municipal para 2009 sem considerarem a hipótese de apresentar candidatura ao programa de regularização extraordinária de dívidas do estado (prede) - recusaram mesmo a necessidade de tal ser feito -, candidatura que foi apresentada três semanas depois de o orçamento referido ter sido aprovado na assembleia municipal. Perante isto, é compreensível que haja quem esteja preocupado por José Silva Lopes não ter conhecimento detalhado do estado das finanças municipais. Até porque parece que, um exemplo mais, os autarcas eleitos pelo psd não têm (ou não querem que os outros tenham) consciência de que, em consequência do prede, o município vai ultrapassar a margem legal de endividamento de prazos médio e longo, o endividamento que verdadeiramente interessa por permitir suportar investimento, em quase cinco milhões de euros (*).
Quanto à parte de, apesar da sua idade vetusta, José Silva Lopes nada ter feito por Ourém, convenhamos, ela mais do que tange a estupidez. De facto, numa concepção canhestra e chauvinista de «fazer por», talvez possa afirmar-se que José Silva Lopes nada ou quase nada fez por Ourém. Mantendo a perspectiva tacanha e estreita, o mesmo pode afirmar-se, por exemplo, em relação a Aníbal Cavaco Silva, que, apesar de ter vindo cá recentemente inaugurar o edifício sede do município novo, seguramente nada fez por Ourém. Mas isto faz sentido? Obviamente que não. Porque as pessoas que desempenham missões numa escala superior, a nacional, por exemplo, ao fazerem pelo país, fazem também por Ourém, porquanto Ourém é parte do país. Foi o que sucedeu com José Silva Lopes, que desempenhou missões relevantes em planos vários, nomeadamente no governo, no banco de Portugal e em instituições financeiras internacionais. Se alguém afirma que isto é nada fazer por Ourém é porque não tem a noção mínima do que é a política - entendida como «fazer por» - e de como funciona um estado. Ou, tendo tal noção, é revelação de desfaçatez e sectarismo qb.
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(*) Segundo o relatório de gestão referente ao exercício de 2008, no final do ano passado o município de Ourém tinha uma margem legal de endividamento de prazos médio e longo de 6,6 milhões de euros. O empréstimo a ser contraído ao abrigo do prede é de 11,4 milhões de euros.

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