O mundo a laranja e preto

Porque o governo actual cometeu erros e já teve dias melhores e porque em Ourém não ser da seita das três setas retorcidas na base e a apontar para o tecto é desvantajoso politicamente, o pessoal do psd tem investido na imprensa local a encostar o candidato do ps a presidente da câmara municipal ao governo. Ou seja, pretende o pessoal do psd que Paulo Fonseca e José Sócrates são da mesma raça política e que, pelo facto de ambos serem do ps, não deve haver contemplações com um e outro no outono que se avizinha. Na prática, esta campanha é o reverso de quem afirma o orgulho e a honra de, sob a bandeira do psd, ter andado a dizer amén a David Catarino e a fazer coro com ele durante mais de uma década. Daí que fique tão bem ao pessoal do psd lembrar à malta que Paulo Fonseca é do ps e palavrinha nenhuma dedicar, por exemplo, a explicar o modo como pretende sanear as finanças municipais. Cérebros tão argutos e ilustrados, com capacidades de planeamento e gestão tão exemplares e patentes, não devem ter dificuldade em fazê-lo. Até porque, como Vítor Frazão sentiu necessidade de anunciar há uns tempos, o município tem ainda margem farta de endividamento. Pouco importa que a margem de endividamento de prazos médio e longo seja mais do que ultrapassada se o tribunal de contas autorizar a adesão do município de Ourém ao programa de regularização extraordinária de dívidas do estado. O que convém é não falar muito sobre o assunto e, para compensar, arrear forte e feio no governo. Reforçar, reiterar, acentuar as malfeitorias, as reais e as outras, do governo socialista. O mesmíssimo governo que, por iniciativa própria, até promoveu o programa que, se tudo correr como esperado, permitirá ao município liquidar uma parte bastante significativa - 11,4 milhões de euros - da dívida vencida há uma porrada de meses e não paga aos fornecedores e prestadores de serviços. Que, no contexto da crise existente, foram forçados pelo pessoal do psd a serem financiadores do município. Enfim, como a malta toda sabe - o ilusionismo e o sectarismo podem muito -, no tempo em que Manuela Ferreira Leite foi ministra das finanças e, à revelia do princípio da autonomia financeira das autarquias locais, foram impostos limites draconianos ao endividamento municipal é que era bom. Não é à toa que o pessoal do psd revela ter tantas saudades dessa época. A coerência é a do costume.