Fátima precisa de um milagre

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Publicamos um artigo de José Alho no JN, edição de 12 de Junho, sobre Fátima:

Fátima é um dos principais destinos de peregrinação mundiais e o terceiro destino mais procurado em Portugal depois de Lisboa e Algarve. Os números oficiais apontam que cerca de 6 milhões de pessoas passam por Fátima todos os anos na sua grande maioria mobilizados pelo fenómeno religioso que lhe está associado. Esta localidade do concelho de Ourém evoluiu de um pequeno local, mais propriamente de uma grande dolina nas margens da Serra de Aire- Cova de Iria para uma cidade que teve de dar resposta à cada vez maior procura dos peregrinos com estruturas e serviços em dimensão adequada. Se a questão do fenómeno religioso em si, por ser uma questão de fé não se discute, pois se acredita ou não, quanto à forma como evoluiu esta povoação e o modelo instalado é urgente um debate sério, infelizmente com um atraso acumulado de décadas.
À excepção da área determinado pela Igreja como cenário das aparições e a sua imediata envolvente, assistimos durante décadas a um dos piores exemplos de ocupação do território numa lógica do “salve-se quem puder” com responsabilidades nunca assumidas por parte dos diversos actores, desde os promotores imobiliários, aos responsáveis políticos locais e nacionais. Fátima é hoje uma cidade desordenada do ponto de vista urbanístico, com inúmeros imbróglios administrativos por resolver (se é que se conseguirão resolver) o que fragiliza as suas funcionalidades e as suas potencialidades. Infelizmente o passivo do caos urbanístico de base é factor limitante à imagem que se esperaria duma cidade santuário, próxima de Áreas Naturais e Monumentos do maior interesse patrimonial e paisagístico. É comum ouvir-se apontar a culpa aos empresários, à Igreja, à Câmara Municipal ou ao Governo por terem feito mal ou por nada fazerem num estilo de “pescadinha de rabo na boca “, mas o que é facto é que o modelo de desenvolvimento que se queria para Fátima nunca foi definido e na sua ausência imperou o cenário de terra de ninguém onde cada uma das partes retirava a mais valia possível deixando a responsabilidade do investimento e da infra-estruturação para os outros. Essa mais valia não significa apenas lucros para os empresários, esmolas para a Igreja, taxas para o município e para o governo, por vezes trata-se apenas dos dividendos alcançados na efémera notoriedade pública nos media ou nas comezinhas lutas politico – partidárias. O facto mais paradigmático deste atitude é o não entendimento quanto à existência de um município autónomo, com diversos protagonistas a defenderem posições diversas e contraditórias de acordo com as circunstâncias e os interesses do momento politico! Por estas e outras circunstâncias, Fátima – Altar do Mundo ou Cidade da Paz, continua a ser um destino procurado sobretudo pela força da fé, vivendo desses momentos bem localizados no decorrer de cada ano, sem capacidade de acolher com qualidade as necessidades físicas dos crentes, sem uma imagem de modernidade, sem capacidade critica e com um claro deficit de cooperação entre os actores responsáveis sectoriais por todo este fenómeno que começou por ser religioso. Pelo seu impacto no Mundo justifica-se que este País olhe para Fátima de acordo com o estatuto que tem em termos nacionais e internacionais, assumindo as obrigações que isso acarreta. Fátima não pode ser esta imagem de subdesenvolvimento, que se torna bem visível quando as grandes multidões partem, onde falta quase tudo em termos de qualidade urbana e de vida. Tal como um dia conseguimos fazer em Lisboa, requalificando os terrenos degradados da sua zona Oriental e ai criando uma nova cidade de Lisboa moderna e atractiva que foi palco da Expo-98,saibamos também transformar este território de Fátima, num espaço de realização de desafios que nos orgulhem em torno da Fé e da Paz Mundiais. Se não puder ser de outra forma, convoque-se um MILAGRE!

José Manuel Alho
Biólogo/Ambientalista

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