Modelo de desenvolvimento

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Retirado do Blasfémias, do artigo Causa e Consequência III:

Diz-se que Portugal tem que abandonar o modelo de desenvolvimento baseado em salários baixos e que para isso tem que apostar na educação.

Ora, uma aposta feita neste momento na educação só terá efeitos na produtividade e nos salários daqui a muitos anos. Mas mesmo que o número de licenciados duplicasse de repente, Portugal não deixaria de ter um «modelo de desenvolvimento baseado em salários baixos». Os salários dependem da oferta e da procura. Se o número de licenciados duplicasse, os licenciados teriam que passar a ganhar menos porque o aumento da oferta de licenciados não implica um aumento imediato da procura.

É preciso perceber porque é que Portugal tem um «modelo de desenvolvimento baseado em salários baixos». Porque o capital disponível é escasso. É do capital disponível que depende a procura de trabalhadores qualificados. Quanto maior o capital disponível, maior a concorrência entre empresas, mais sofisticados são os projectos, mais qualificados têm que ser os trabalhadores e mais elevados os salários.

Portugal só poderá abandonar um «modelo de desenvolvimento baseado em salários baixos» se poupar mais, se conseguir atrair capital estrangeiro, se o estado deixar de desperdiçar capital em projectos inúteis e se o capital humano e material do estado não for desperdiçado na formação de recursos humanos denecessários.

Agora, experimentem trocar a palavra Portugal por Ourém e estado por câmara. Fica tudo mais claro para quem não se deixa ludibriar com idéias idiotas como um Polo Universitário em Ourém ou um Campo de Golfe em Caxarias. Isso não são modelos de desenvolvimento, são a mais pura política da cenoura para o burro.

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6 Comentários

Caro Fred,
com todo o respeito e, lembrando que muitas vezes estou de acordo consigo, venho manifestar a minha discordância em relação a este artigo e ao do Blasfémias que me parece cada vez mais cego na cruzada contra a intervenção do Estado na Economia. As razões estão no no meu espaço em http://ourem.blogspot.com/2004/12/um-idiota-incorrigvel-o-blasfmias.html

caro luís,

os resultados da intervenção do estado na economia estão à vista: os países mais ricos do mundo são aqueles onde há mais propriedade privada e onde o estado menos intervém. e isto não são teorias ou defesa deste ou daquele ponto de vista político, é só olhar para os números.

Caro Pfig,
eu não fiz qualquer referência à propriedade privada e pode estar seguro que não pretendo acabar com ela nem com a iniciativa privada.
O que vejo é que a concorrência, que gera a necessidade de substituição de unidades obsoletas por outras mais modernas, provoca incríveis problemas sociais. E aí é preciso intervenção do Estado, não para acabar com a iniciativa privada mas para que um modelo de desenvolvimento relativamente liberal (mas atento ao social) se possa manter. E essa intervenção não pode ser mandar a polícia contra os desempregados.
Por outro lado, a intervenção do Estado é necessária naqueles países em que, apesar de existir toda a liberdade de empreendimento, a classe empresarial não quer arriscar ou só o faz em Economia paralela.
Acredite que também eu quero menos Estado e tenho a esperança de que um dia ele se venha a extinguir. Mas até lá...

Meus Caros,
Embora à distância, muito distante..., tenho acompanhado a vossa interessante troca de impressoes com uma vontade enorme de nela entrar.
Só vos queria dizer isto e deixar reservas para as certezas tao certas do pfig. O que você nos transmite é uma posicao ideológica e nao uma constatacao histórica. Nao se limite ao tempo presente, às actuais estatísticas ou ao que acontece na noss década. Como chegaram esses "países ricos" à riqueza? Quais as dinamicas? E a riqueza mede-se em médias? Só? E a dispersao?
Abracos e boas festas
do Sérgio Ribeiro

Na minha opinião a politica do salario baixo em Portugal é somente uma questão de mentalidade que se vem arrastando à muitos anos e isso na~io se muda muito facilmente. O povo português sempre gostou de ostentar riqueza. Hoje se tivessemos aproveitado toda a riqueza que já tivemos seriamos um pais bem mais rico, mas não, construimos palacios e palacetes.
Hoje em dia, corremos atras da fama com projectos que mais não servem do que alimentar algumas (poucas) empresas de construção (Expo98, Euro2004, e pelo que dizem entretanto jogos olimpicos).
O espirito do empregador em Portugal é o espirito do "isto está mal" mas ao fim do ano e para não se pagar impostos compra-se maquinaria para a empresa normalmente da marca Mercedes,BMW etc... que certamente faz muita falta para aumentar a produtividade. Os portugueses que emigraram são productivos e têm capacidade para criar riqueza no estrangeiro como os genes dos que cá ficam são os mesmos a desculpa da baixa pruductividade salário baixo não pega pois se o trabalhador vir o seu trabalho recompensado produz agora se a recompensa do seu trabalho for somente criar riqueza para o empregador que depois vai distribuir em automoveis, moradias, etc...a vontade de mais produzir esfuma-se. Porque será que somente aumenta a venda de carros de luxo e de moradias de luxo??
Antes de entrarmos na UE nada tinhamos e hoje após recebermos milhões pouco mais temos. É inacreditavel que, a titulo de exemplo, quem esteja a aproveitar mais o investimento da barragem do Alqueiva sejam os empresários agricolas espanhóis.
Por muito que se fale, mentalidades dificilmente se mudam.

Um bom Natal a todos

Caro Sérgio, olhemos então para a história de países como os EUA; a Islândia; os Escandinavos; a Holanda; a Alemanha e o Japão.

Nestes 2 últimos concedo que grande parte é devida ao plano Marshall, todos os outros foram construídos com algum proteccionismo económico que souberam abandonar tão depressa quanto possível (embora ainda hoje os EUA sejam o que se sabe nesse aspecto); e a reducção gradual do Estado à sua componente mínima, principalmente, como muito bem diz o Luís, no campo da Segurança Social (e este é um terreno delicado, porque o modelo social europeu é baseado em taxas de crescimento que eram verdadeiras há 30 ou 40 anos e hoje em dia são impensáveis, por isso é bom que alguém pense em alternativas) e na aplicação dos impostos colectados e pouco mais.

Se conseguirmos pensar num modelo de seguros privados, em que o governo cobre a diferença dos que não os podem pagar na totalidade ou em parte, vemos que até a Seg. Social pode ser privatizada sem grandes dôres de cabeça.

O grande problema de tudo isto: é necessário um sistema fiscal que funcione, num país que não pertença só à Europa dos BMW. E eu, infelizmente, não acredito que Portugal alguma vez consiga pertencer à outra, a verdadeira (já acabando com este arremedo de país e criando regiões na Península Ibérica a conversa seria outra, a meu ver).

Um abraço,

Pedro

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