Segundo notícia do Região de Leiria de hoje:
David Catarino, presidente da Câmara de Ourém, admitiu a semana passada que a renegociação do contrato de concessão com a empresa que abastece água ao concelho pode vir a incluir normas penalizadoras relativamente a falhas prolongadas no abastecimento de água. Acontece, contudo, explica o autarca, que a maioria dos cortes de água verificados em alguns pontos do concelho são imputáveis ao sistema de abastecimento que, nalguns casos, não se encontra nas melhores condições.
Ou seja, iria ficar tudo na mesma. Por um lado, a câmara admite penalizar a CGE pelo mau serviço prestado. Mas por outro, não o pode fazer porque a rede de água, ou seja, os canos, continua a ser da câmara, e portanto, a CGE pode sempre usar o alibi que quiser, porque a rede não é sua. Ficou sem água durante 1 dia? Lamentamos, mas o melhor que podemos fazer é remendar o cano. A CGE apenas explora o serviço e lança a factura ao final do mês. A solução então, segundo a Câmara, passa a ser a de investir na melhoria da rede e avançar com obras, mas desta vez, pagas pela CGE, em troca de mais 5 anos de licença de exploração. À primeira vista, parece ter lógica, a Câmara faz obras na melhoria da rede de água a custo zero, sendo a CGE a pagar a factura, beneficiando de mais anos na exploração. No entanto, é o próprio presidente de Câmara (e não um responsável da CGE) que afirma:
E, para fazer face aos trabalhos, David Catarino sublinha que deverá ser o sistema a gerar receitas para estes investimentos.
Ou seja, a CGE não vai pagar os investimentos, quem vai pagar é o consumidor, todos nós. Portanto, pergunto mais uma vez, qual é a vantagem de ser a CGE a explorar a água em Ourém? Que benefícios trouxe à população? A câmara não é capaz de criar uma empresa municipal de água que leia os contadores, cuide da rede e qualidade da água, tenha piquetes e mande as facturas para casa sem aumentar os preços a níveis obscenos? Outra questão, agora fala-se em 12 milhões de Euros de investimento, mas em Agosto a câmara falou em 4 milhões. Foi um número atirado ao calhas? Ou 12 milhões está um bocadito para o inflacionado? Mais, a propria câmara entendeu que 12 milhões de Euros é capaz de ser ainda pouco, já que sabem que a CGE vai lucrar um valor maior com o acréscimo de consumo. O próprio PS fala em receitas da CGE de 72 milhões de Euros para obras no valor de 12 milhões.
A questão da gestão da água por empresas privadas é uma questão de princípio. Não sou contra empresas privadas, antes pelo contrário. Só que o negócio da água canalizada, por ser um monopólio, a receita é garantida, o lucro é fácil. Basta aumentar em 5 ou 10% o consumo e introduzir taxas que ninguém percebe para que servem e gera-se vários milhões a mais por ano. E sem gastar dinheiro num único investimento da rede, como é o caso de Ourém. O objectivo de uma empresa privada é obter o máximo lucro e responder perante os seus accionistas. Empresas de água, só por pura incompetência é que não geram dinheiro. E depois, o reverso da medalha, a qualidade da água continua a mesma ou piora, falhas no abastecimento, não tem uma cultura virada ao cliente, estão-se nas tintas para quem paga a factura. E porquê? Porque tem um monopólio de 25 anos, onde podem fazer o que quiserem, sem prestar contas a ninguém. Não existe concorrência. E com a conivência do poder local.
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