One man show ou mau jornalismo?

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Sou leitor mais ou menos assíduo de jornais. Leio sobretudo os diários, em formato online e costumo dar uma espreitadela ao Região de Leiria, que para além dos jornais locais da minha terra é uma fonte regular de notícias oureenses. Ao espreitar na secção 'A Região' deparo-me com um artigo aparentemente inócuo, 'Câmara Municipal acaba pavilhão'. A curiosidade toma conta de mim e resolvo ler o artigo em pormenor:

A Câmara Municipal de Ourém vai efectuar obras no pavilhão desportivo propriedade da União Desportiva de Pinheiro e Cabiçalva, localizado na freguesia de Nossa Senhora da Piedade, que há vários anos se encontra por concluir.

Hmm, ok. É sempre uma boa notícia a conclusão de algo inacabado, ainda por cima com alguns anos. Continuo a ler:

David Catarino, presidente da Câmara, explica ao REGIÃO DE LEIRIA que a edilidade estava perante duas possibilidades: ou manter a obra por acabar ou avançar para a sua conclusão.

Ah decisões, decisões. São sempre difíceis e não se pode agradar a todos. Mas adiante:

O responsável considera que aquele investimento foi um erro de planeamento - “nem sequer tem população envolvente” -, agravado por um apoio da Administração Central numa primeira fase que, depois, não foi secundado por outros.

Ainda bem que as câmaras municipais estão imunes a erros de planeamento, felizmente! Depois temos a frase:

“Cá está a Câmara a servir de bombeiro”, lembra o responsável.

Atenção. Muita atenção. A câmara passou a ser uma entidade de beneficiência, que pratica a caridade e apoia associações desportivas que não sabem fazer o devido planeamento. Continuando:

Para David Catarino, as obras de conclusão do pavilhão estão estimadas em 150 mil euros, mas para as realizar o município quer uma contrapartida que passa pela integração daquele equipamento na rede de estruturas desportivas do município. Isto mesmo será depois objecto de um protocolo a celebrar entre a direcção da União Desportiva de Pinheiro e Cabiçalva e a edilidade.

Afinal, 150.000 euros (número redondo) são gastos para converter o pavilhão numa estrutura desportiva municipal e fala-se na possibilidade de ser utilizada por colectividades de interesse tal como a nossa querida Juventude Ouriense (parabéns pelo hóquei e patinagem!). É uma boa idéia, reconverter um projecto inacabado em mais uma estrutura ao serviço do desporto e colectividades.

No entanto, ao ler o artigo, o que fica é que tudo se assemelha a um monólogo do presidente de câmara, de um comunicado oficial camarário, impresso directamente no jornal com umas frases a meio: União Desportiva do Pinheiro e Cabiçalva são uns incompetentes, não planeiam, a câmara vem salvar a situação ao estilo bombeiro-apaga-fogos, 150.000 euros, obra feita, toda a gente está feliz. Só que quem fez o artigo chegou a pensar o que diriam os responsáveis da União Desportiva? Como é que começou tudo? Porque é que não foi concluida a obra? O que é que eles pensam da decisão da câmara? Chegaram ambos a acordo? Há quanto tempo é que a construção estava por concluir? Se não havia população envolvente, o pavilhão iria servir quem ao certo? Não quero dar lições de jornalismo porque não sou um jornalista, mas na minha opinião como leitor, um jornal serve para informar e quando se relata um acontecimento, convém ouvir todas as partes envolvidas, para que o retrato esteja completo e possamos saber o que se passa realmente, ou pelo menos, tentar saber. É que para artigos destes, por melhores intenções que o jornalista e entrevistado tenham, mais se assemelham a campanha indirecta para as autárquicas que são já para o ano.

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