Recordações de Ourém

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Karl Marx, na figura do Luís (Ourém Blog), andou em peregrinação por Ourém e recordou velhos tempos. Sempre crítico e nostálgico fica aqui um pequeno excerpto:

Se todos juntarmos o que sentimos que nos falta de um passado ainda bem próximo e o que receamos que no futuro nos seja tirado, compreenderemos a mágoa dos que dizem que Ourém tem sido gerida por pessoas que não têm amor à terra.
Pela parte que me toca, recordo o belo jardim que existia em frente à Câmara Municipal substituído por uma minúscula caricatura que termina em sanitários mal cheirosos. Recordo a destruição do velho edifício onde se exibiu cinema durante muitos anos ali bem nas traseiras do hospital.

Vejo-o como mais um testemunho de como seria a antiga Vila Nova de Ourém, onde eu nem sequer tinha nascido. No entanto, e se reparamos, Karl Marx, fica ali bem, na figura do Marxismo, como algo remoto e histórico mas que tem pouco a ver com o futuro. Irá sempre ser um desafio, saber crescer e conjugar o progresso com o respeito pelo passado. Link.

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12 Comentários

Fred, você é muito amável, mas está equivocado. Karl Marx tem muito mais a ver com o futuro do que aquilo que você pensa e que lhe terá sido incutido por uma burguesia sempre receosa da perda de privilégios. Se calhar, esta nossa conversa é um prova de que ele não estava de todo errado ao analisar o desenvolvimento da sociedade com base na luta ideológica, na luta política, ...
Mas você é muito jovem e terá com certeza muito tempo para reflectir e não deitar fora tão facilmente uma perspectiva de análise cujo único mal foi deixar-se agarrar por alguns indivíduos que, nas concretizações, acabaram por aproveitar o seu pensamento de um modo bem negativo. Essas, sim, são passado, não devemos reeditá-las, mas devem ajudar-nos a detectar erros ao nível das relações sociais nas sociedades em transição, que se não podem repetir.

Um dos maiores problemas em Ourém, que não é exclusivo daqui – pois existe noutros municípios portugueses e noutros lugares do mundo - , é a relação da comunidade organizada, o município, com o(s) tempo(s). Definir projectos – isto é, desenhar o futuro – preservando a memória e os patrimónios – isto é, testemunhando o passado – é um dos maiores desafios da vida – isto é, do presente. Nisto, suspeito, o Fred e o Luís estão de acordo. E, parece-me, batem-se ambos no mesmo sentido, por uma outra forma de, em Ourém, relacionar o hoje com o ontem e o amanhã. (A propósito, o texto do Miguel, «O problema Ourém», merece atenção e comentários, embora ele coloque a tónica sobretudo nas oportunidades - antes desperdiçadas - e no futuro).

Só mais duas coisas.

Primeiro. Dizer que o Fred é muito jovem poderia levar ao inverso, dizer que o Luís é vetusto... Como está bem de ver, não é via que leve muito longe, até porque a idade não determina, seja em que instância for, o discernimento, o alcance e a capacidade de reflexão ou as atitudes, designadamente a esperança (supostamente de um) e a nostalgia (supostamente do outro). A maturidade talvez determine. Mas isso é outra coisa ou um outro plano das coisas. Tem a ver com a vida, com as vivências, com as experiências, com os trajectos e as trajectórias de vida, com o lastro e o complexo vital em que se condensa a identidade de cada pessoa.

Segundo. O esquema marxiano mantém potência heurística e analítica, continua a ser um instrumento útil para pensar as estruturas, as dinâmicas e os processos sociais da actualidade. Ok. Mas tem também claros limites, sobejamente diagnosticados em diversas sedes disciplinares. Porque o mundo é tão plural, porque a vida é tão complexa, hoje é cada vez mais difícil discernir quais são os caminhos – e não o caminho – que melhor, com maior eficácia e eficiência, cumprem o desígnio da condição humana. Como disse Steiner, “we have no more beginnings”. Mas também não temos o destino traçado e indisponível. É por isso que, diferentes, discutimos. Com o propósito de contribuir para outra, nova ou actualizada, síntese, para uma melhor ordem neste chão a que chamamos Ourém. O lugar onde, por memória, vida ou projecto, se encontra a ecúmena e a diáspora oureense, o lugar onde se encontram, recontram e reencontram os oureenses.

Caro Luís, ao contrário do que possa pensar, admiro Marx como filósofo e até concordo com algumas idéias enquanto economista ou político, mas entre a teoria e a prática vai uma diferença substâncial. Não quero aqui esbarrar na questão da aplicação prática do marxismo, coisa que pelo que vejo, estamos ambos de acordo de que falhou históricamente (no meu caso, nem sequer foi necessário esperar pela derrocada do Muro de Berlim e consequentemente da ex-URSS e da Cortina de Ferro para constatar isso). Agora, quanto às causas do falhanço, pela sua opinião, deve-se à má aplicação na prática do Marxismo por Lenine ou Staline. Li pouco sobre Marx, apenas me recordo de ter lido 'O Capital', portanto não quero aqui apenas destinguir a teoria de suas idéias, porque não tenho bases para isso. Mas pelo meu ponto de vista de ver as coisas, acredito mais no homem do que na sociedade. Por outro lado, Marx viveu no séc. XIX, onde a sociedade, o tecido industrial e o trabalhador tinham características completamente diferentes das que tem agora. A 'burguesia' que refere, é hoje uma amálgama de pessoas de diferentes opiniões e convicções, e é algo de difuso quanto ao que considera 'regalias'. Então e os trabalhadores hoje em dia, também alguns limitam-se a agir apenas quando alguma regalia esteja em perigo? É essa mudança que está a acontecer e faz com que o trabalhador e a sua inserção na sociedade e trabalho tenha que mudar. Não queria alongar muito esta discussão (se quiser podemos continuá-la em privado) mas, apenas quis referir que o desejo de mudança e crítica construtiva não é apenas filho único da filosofia marxista. Vou continuar a acreditar na liberdade do indivíduo, e não alinho no discurso do Estado que se torna opressor para nos libertar das 'classes opressoras'.

Há anos, lá para 1970, frequentei uma disciplina de História das Doutrinas Económicas e Sociais de que era responsável o Professor Mário Murteiro no, então, ISCEF, actual ISEG.
Apesar da ditadura e dado o facto de esta ser uma escola de referência no combate à mesma, grande parte do programa foi utilizado no exame das ideias de Karl Marx e de alguns seguidores, estando nesse momento na ordem do dia as concepções de Althusser e existindo uma obra que os estudantes de Economia apreciavam muito que era A Economia Mundial de Iniciativa Privada de Christian Palloix.
Como calcula, gostei imenso de frequentar essa disciplina, ela veio dar um pouco de cientificidade àquilo que lia em regime de autodidatismo.
Passados alguns anos, qual não foi o meu espanto quando deparei com um artigo do Professor Murteira em que este afirmava relativamente a um pilar do marxismo, a teoria do valor trabalho, de acordo com a qual o valor de uma mercadoria é determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário à sua produção, que acreditar ou não na mesma era uma questão de fé.
A verdade é que se prosseguirmos esta discussão, daqui a pouco estamos a fazer profissão de fé relativamente a Marx ou a negá-la, por isso, estou de acordo consigo. Paremos. Futuras discussões irão com certeza formar o quadro de um novo pensamento que permitirá a humanidade ultrapassar esta fase em que não conseguiu eliminar injustiças nas suas mais diversas manifestações. Quem será o autor dessa transformação é possivelmente uma incógnita. Os trabalhadores do conhecimento? Alguma classe social que se virá a afirmar no futuro?
Quase que diria que era preciso um retorno do nosso amigo Marx a este mundo.

Blog sobre Ourém ou sobre Marx? Fred, quando alguém sai do tema "Ourém", o senhor vem a terreno chamar à atenção, portanto...

Fred, deste muita fruta de troco.Luis é mais um que tende a ver Ourém de longe, como comentários de avõ esclerosado, receitando "mézinhas" à distância. Isso nada tem a ver com um regionalismo que deve ser pragmático perante Ourém. É mais um conselheiro a pensar que os filhos de Ourém,"coitadinhos", não evoluiram e que ele mestre conviveu com muitos "prof's" e gente importante que vê a província de uma esplanada da Capital,parafraseando ontem Jorge Sampaio, no Alentejo.
Olhem, eu neste mês de Abril, apetece-me mais dizer que, ao tempo, e ainda numa noite de escuridão para os portugueses, convivi com o Zeca e sua viola.

Pois é, no melhor pano cai a nódoa, um colaborador de O Castelo assume-se como regionalista pragmático, mas o seu comentário parece-me de um verdadeiro provinciano: ele está lá, ele é que sabe, eles são os maiores.
Tudo bem, fique na sua concha, guarde bem o seu Castelo, continue a separar os oureenses daí e os daqui e a servir-se do Sampaio e do Zeca para ter onde se inserir e ganhar campo para atacar os outros. A partir de agora, ignoro-o.

Caro Rosa, noto que anda atento. Se reparar bem, sugeri que o debate se prolongasse a nível privado.

A reacção do ti Alberto, o decano aqui d'o Castelo, à troca de comentários entre o Fred e o Luís, não me parece que faça muito sentido. Numa discussão, qualquer que ela seja, o que é relevante não é a origem ou o lugar de residência das pessoas. Relevante, sim, é o que essas pessoas dizem. Daí que, no meu entender, não colha essa conversa (paroquial) segundo a qual apenas quem vive permanente ou duradouramente em Ourém é que tem legitimidade ou autoridade (ou tem mais legitimidade ou autoridade dos que os outros, quaisquer outros) para falar sobre Ourém. Porquanto me parece, essa, uma forma de reservar a discussão de Ourém para uns, excluindo os outros. É que isso, convenhamos, em qualquer debate, em qualquer troca de ideias, para além de má filosofia, é má política.

sf, serei eu o decano? Quem me conhece sabe que dou a cara. Vamos é seguir o conselho do Eugénio Simões e todos indentificados; somos plurais e democratas.
Sei que é para todos escreverem. Saudei a iniciativa, no no ínicio e até falei da diáspora Oureense. Lembra-se?...a nossa causa é Ourém, ou anda por aí alguma coisa escondida?

Ó ti Alberto!, suspeito que a nossa causa, a sua, a do Fred, a do Luís e a minha, é Ourém. E, sim, recordo-me, da referência que fez à diáspora oureense. Por isso é que estranhei que tivesse escrito o que escreveu sobre o Luís: "mais um que tende a ver Ourém de longe, com comentários de avô esclerosado, receitando "mézinhas" à distância. (...) É mais um conselheiro a pensar que os filhos de Ourém,"coitadinhos", não evoluiram e que ele mestre conviveu com muitos "prof's" e gente importante que vê a província de uma esplanada da capital".
Eu não partilho o tom nostálgico do Luís - que, pelo que me pareceu, não é o único dos seus tons -, assim como não concordo com parte dos reparos e das sugestões que ele fez sobre Ourém na longa entrada, de dia 15 último, no seu blog. O que quis notar com o meu comentário anterior é que não me parece que seja relevante - ou sequer de invocar - o lugar de onde ele vê e escreve sobre Ourém. Aliás, pelas fotografias que ele apresentou (actuais), percebe-se que ele não vê Ourém assim de tão «longe». Vê com outros «olhos», vê de outro modo, vê com outra sensibilidade, com outro sentido, com outro sentir. Para mim, isso, é quanto basta assinalar. Pois do que anda por aí escondido, se por aí anda alguma coisa escondida - caras incluídas -, nada sei. Como não sei quem é o Luís.

OŽmeus amigos,
uns dão a cara, outros o coração.
Esclerosado como estou, decerto afugentaria os leitores do Castelo.

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